segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Constatações do fim de semana







* Automóveis: Em carro de dois, banco de trás é porta-malas.
* Competições: Quem faz amigos leva pra casa o troféu de maior valor.
Quem faz intriga perde a medalha e volta mais vazio do que foi.
* Regime: Final de semana fora de casa abaixa a força de vontade e aumenta o
número na balança.
* Livro: Quando a história é muito boa a gente guarda as páginas do final para devorá-las em um momento especial.
* Frio: Umidade e baixa temperatura arrepiam e deixam os nervos à flor da pele.
* Menina chata: É muito chata.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Quem cala ouve.

Acorda ressentida, magoada, fodida e não sabe ao menos explicar tamanha tristeza.
Pega o telefone, disca, espera:
- Alô, você pode me ajudar?
Pode. Sempre.
A voz do lado de lá resolve tudo o que ela não pode aguentar.
Uma injustiça, seja feita justiça.
Mas o que pode fazer senão sucumbir, deixar, permitir.
De vez enquando ela tentava crescer, ser dona do nariz e fazer tudo com as próprias mãos.
Seria uma boa idéia, assim cortava o mal pela raiz.
Mas nunca funcionou. Falhou uma, duas, três.
Fracassou 100, sem chances de vencer.

Aí no meio do fim ela lembra da voz do telefone.
Telefona e escuta o que ela diz.
Sempre firme, afirma que ela é capaz, que o mundo é ruim com todo o mundo, e que seu dia vai chegar quando ela deixar.
Ela se deixa levar.
A voz não mente. Nunca mentiu.
Chora compulsivamente, tentando parecer normal.
Pensa que a voz percebeu, mas ignora para não falar no assunto.
Assume, calar às vezes faz bem.
Aceita acreditar na poesia, no conto que diz: no final fica tudo bem.

Quando fica bem, preocupa-se com a amiga sem rosto do lado oposto.
Porque tratá-la assim? Despejar sem medida toda a dor da ferida que fez em si?
E as dores da voz? Quem ouve suas lamúrias, seus segredos, suas súplicas, seu medo?
Quem a ouve, enfim?
Discou de novo o mesmo número com as pontas dos dedos:
- Alô.
- Só queria dizer que te amo. E você, o que tem pra dizer?

...

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Bolo de abóbora e amendoim



No Quitutes!

Força ou forca

Talvez ela se odeie mais do que pode suportar
E se inventou feliz demais para sustentar.
Mentiu idade, amizade e o jeito de falar.
Vai ver que ela precisa de tempo pra ver se vai
Não se conhece, desconhece esse lugar
Ou então sabe tanto sobre as entranhas que estranha.
Não é possível desligar
Plugada na parede, desce as costas no cimento gelado
Vai escorregando até sentar no chão e chorar.
Já perdeu a conta das lágrimas
Deixou que corressem soltas, escorrendo até lavar
Tinha esperança que a correnteza levasse com ela o nó
Mas ficou tarde, secou e se viu só. Pó.
O rosto arde.
Não se amarra em nada, ao contário, tenta escapar.
Quer viver longe de si mesma, não quer pensar nem estar.

Implora que corram horas.
E que o tempo venha ajudar.
Tempo perdido.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Como foi com nós dois

Antes de casar a gente já era casado.
Fomos três vezes, é verdade.
Naquela vez em que você meio morou em casa, sem roupas.
Nada na mala. Menos no corpo.

Depois quando viajei pra morar com você.
Na nossa casa.
De roupa e guarda-roupa.

E agora, quando colocamos alianças e juramos o que já jurávamos há muito tempo. Vestindo nossas roupas de festa.

Às vezes parece que os dias não passaram.
E que meu cabelo continua trançado.
É que quando a gente se via no corredor eu tinha vontade de correr.
Primeiro de você.
Depois para você.

Mas a gente foi ficando um grudado no outro.
Um livre do outro.
E de tanta liberdade chegou a hora da saudade.
Para matá-la alugamos um lugar.
Lar.
E eu fugi de mim pra você.

E não é que quando a gente se deixa pra trás
Acaba correndo, ansiosa, para alguém.
E de tão esquecida a gente vê nos olhos do outro um desconhecido.

Quando eu cheguei com as caixas bastou te olhar.
Atrás da bola marrom, bem depois da cortina de cílios, no fundo
Lá estava eu.
Onde eu gosto de estar.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Você tem fome de quê?

Passava da 13:00h quando eles acordaram.
Ela se virou para olhar ele.
Ele retribuiu e viu ela.
Deram o primeiro beijo do dia com os olhos semi-abertos.
Ou semi-fechados.
Ficaram em silêncio com as pernas enroscadas.

Ele: - Tá pensando em quê?
Ela: - No almoço. E você, tá pensando em que?
Ele: - Em te comer.
Ela: - No almoço?!

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Flor de Azeviche

Quando você pinta tinta nessa tela cinza
Quando você passa doce dessa fruta passa
Quando você entra mãe-benta molhar os pedaços
Quando você chega nega fulô boneca de pixe,flor de azeviche

Você me faz parecer menos só,menos sozinho
Você me faz parecer menos pó,menos pozinho

Quando você fala bala no meu velho oeste
Quando você dança lança flecha estilingue
Quando você olha,molha meu olho que não crê
Quando você chega mariposa morna lisa,o sangue enxarca a camisa

Você me faz parecer menos só,menos sozinho
Você me faz parecer menos pó,menos pozinho

Quando você diz o que ninguém diz
Quando você quer o que ninguém quis
Quando você usa a lousa pra que eu possa ser giz
Quando você arde ao arder a sua teia cheia de ardis
Quando você faz da minha carne triste quase feliz

Você me faz parecer menos só,menos sozinho
Você me faz parecer menos pó,menos pozinho

(Disse tudo o Zeca Baleiro)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Opa!

Tem salgado no Quitutes

Férias das minhas férias.

Ocupada.
Preencheu o tempo e esvaziou a cabeça.
Atarefada.
Esqueceu das unhas, do creme no cabelo, da sobrancelha mal tirada.
Deixou de lado a escrita e na hora vazia se viu sozinha com o livro emprestado.
Por pouco.
Tirou férias das próprias férias e agora trabalha apressada.
Nada de quitutes, nem comidinhas elaboradas.
Macarrão é mais rápido.
E assim corre, dá voltas no parque depois das seis.
Só mais um pouco e logo passa.
Passa a roupa acumulada.
Pra não passar em branco tudo o que fez.
E quando finalmente senta,
Inventa que já é hora de começar outra vez.