sábado, 29 de maio de 2010

Marie

E ontem, enquanto jogavam fora a conversa nada descartável, lembrou-se do aviso da outra amiga.
Ela sabe que não deve ficar cutucando casaca de ferida, mas acha que quando verbaliza faz parecer verdade sua imaginação.
Foi em frente, deu asas:

- Já te expliquei como é quando me encontro com ela, eu sei da real situação, mas ela fica ali, junto com a gente, como se nem ligasse.
- Sei como é, eu nunca a vejo.
- Eu vejo sempre, mas dessa vez ela se despediu, acho que não vai mais voltar.
- Ah é?
- É, mas disse que não precisamos nos preocupar, porque ela é agora um pedaço da gente. Um pedaço de cada uma de nós.

E é.

sábado, 22 de maio de 2010

Minha querida TPM

No próximo mês, quando você estiver a caminho me avise.
Mas avise de forma convencional, e não com aquela enxaqueca horrorosa que você costuma mandar, assim posso preparar o terreno pra que sua estada seja confortável (se é que isso existe).
Se você me der um tempo, posso intensificar os treinos e correr para amenizá-la, li isso em uma revista, lá diz que assim nossa convivência forçada pode ser menos desagradável.
Quem sabe.
Você podia também me alertar da avalanche de emoções que trás na mala, porque francamente, eu já não sei mais como justificar meu choro incontrolável na abertura do caldeirão do Huck.
E dê um tempo nas cólicas, contente-se em me deixar sensível até as pontas dos dedos.
Se puder me indique um creme que ajude na hora de desembaraçar os cabelos, porque eu sei que você nem percebe, mas sua presença desperta no meu couro cabeludo as mais estranhas sensações.
Vá com calma.
Querida, atente para o tempo que me toma.
Não fique mais que o necessário - isso é mesmo necessário? - eu não quero parecer frágil, neurótica, nervosa e ansiosa 10 longos dias.
Eu não aguento.
Mas veja bem, TPM dos infernos, eu estou tentando estabelecer entre a gente um diálogo honesto, porque sei do que você é capaz e não ouso expulsá-la da minha vida, mas sejamos discretas.
Me incomode de um jeito que eu possa disfarçar, me permita conversar com as pessoas sem ranger os dentes e eu não volto a reclamar.
Procure outras pessoas para chatear, mostre àquelas meninas estranhas que dizem não sentir nada, nem vontade de chocolate, o mal que você me faz.
Não deixe que elas debochem do meu mal estar.
Me deixe estar mal.

Te vejo no mês que vem, por favor, mais comportada.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

De fora pra dentro

Ela olhava pra fora tentando esquecer o burburinho ali dentro
E se deixasse o cabelo solto, a cara lavada e os braços abertos?
E se tentasse de verdade soltar as amarras, vencer o medo, livrar-se de si?
Se fizesse isso ao menos uma vez, não seria suficiente?

Ela olhava como quem quer ser livre, sentia como se fosse voar
Mas enquanto pensava deixava ser abraçada pelo pânico
Aquele covarde
Não quer mesmo deixá-la em paz.

domingo, 16 de maio de 2010

A chateada

Ela pensou, então, que era assim que se sentia uma pessoa verdadeiramente triste
Assim, muda
E esperou um pouco pra ver se passava
Mas viu que perdera de vez as palavras
E ficou olhando o fracasso
Sem dizer absolutamente nada.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Elo

O que é que foi da gente?
Eu me vi procurando ontem por coisas nossas que não sei mais onde estão.
Tão longe, transformaram-se em impossíveis nuvens palpáveis
Dissolveram-se
De forma tão natural que só me fizeram sentir dor agora
Quando restou o vazio
Quando pensei em você.

Não daquele jeito de ontem.
A gente ainda se reconhece, eu sei
Mas você também não me acha mais
Não me vê no meu novo modo de andar
Nem nas gírias que uso quando tentamos conversar.

E apesar da falta de tato sobra calor
Uma sensação estranha de bem querer
E uma vontade enorme de prosseguir
Nos dias em que consigo agir
Quando ouso te telefonar.

E jamais falamos nisso, nem eu nem você
Porque uma conversa franca pode detonar o pouco de nós que ainda resta
Então ficamos assim, uma segurando o dedinho da outra
Torcendo pra não errar o dia
Pra encontramos um jeito
E acertar a hora de recomeçar.

E eu lembro de tudo que fizemos de bom
E sinto o mal que conseguimos causar
Eu em você
E você em mim
Sem desesperar
Sem esperar por perdão
Sem querer perdoar.

Seguimos assim
Eu me encontrando em você
E você se procurando em mim.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Bodas de Algodão

Ainda bem que escolhi você
Pra dividir os dias
Pra compartilhar a cama
Pra tomar banho junto
Pra me acordar com beijos
Pra assistir seriados
Pra entrar no mar
Pra ouvir meus dramas

Ainda bem escolhi você pra marido
E pra dizer te amo todos os dias.

Fez dois dos muitos anos.