terça-feira, 29 de julho de 2008

sexta-feira, 25 de julho de 2008

801

Atrás da porta número 801.
Lá ela se escondia.
Ficava longe do mundo, mais longe do que gostaria, tão longe que mal podia aguentar.
Recolhia os pedaços do que foi, os rabiscos que indicavam o que queria ser, e às mágoas por não te feito isto e aquilo.
Guardava na caixa de guardar.
Segurava firme com as duas mãos, mexia tudo, de um lado para o outro, de cima pra baixo, zigzagueando o invisível no espaço.

Ela abraçava os joelhos e enfiava a cabeça no vazio entre o peito a dobra das pernas,
Ficava ali segundos que se pareceriam com horas.
Ou horas que virariam um segundo.
Dependia apenas da fase da lua, da posição dos planetas, ou do dia do mês.
Seu humor estação faz inverno no verão.
Quando foi pra longe deixou pra trás uma coisa estranha,
Um preocupar-se com nada.
E agora vive as horas pensando em tudo.

Quando nasceu a mãe levou os números para o astrólogo.
Seria comunicadora. Talvez jornalismo, letras ou publicidade.
Quem sabe atriz.
Ela seguiu à risca as recomendações da Cabala.
Só não tentou o teatro. Faz de conta não paga conta, ela ouvia.
Interpreta a indecisão enquanto se enrola na cortina.
Pula de um curso pro outro.
Muda o curso da vida quando enjoa de ser estática.
Não gosta do que fez. E ainda não sabe o que vai fazer.

Atrás da porta 801 ela pensa que o homem errou.
Errou feio.
Tem vergonha de se expressar.
Não pode comunicar nada com o rosto tão vermelho assim.
E então escreve na agenda do ano passado linhas e frases desconexas.
Conexão com ela, que ao vivo não vai falar.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Da morte

"Passamos tanto tempo atormentados pela idéia da morte, esmagados pela finitude das coisas, que morremos mil mortes antes de finalmente morrermos.(...) Viver sem o terror da morte é viver uma vida bela, não importa a quantidade de anos." Fabio Hernandez

quarta-feira, 23 de julho de 2008

As mulheres daqui não bebem como as de lá.

Enquanto corria de seus pesadelos, duas voltas na praça das tartarugas
Ouviu a conversa das duas mulheres que andavam em ritmo acelerado

- Foi a coisa mais feia do mundo. Homem bêbado já é feio, mas uma mulher...
- É verdade, e o pior é que ela bebeu mais de um tipo de bebida, misturou tudo.
- A gente não deve beber nas festas. É melhor tomar um suco, deixa o álcool para os homens.

A conversa foi ficando longe, e ela apertou o passo.
Sentiu raiva do machismo feminino.
Lembrou-se do churrasco às 20:30 e do gosto da cerveja gelada que não tomava há semanas.
Correu 5 minutos a mais para compensar os goles extras.
Um brinde às mulheres que bebem sim, obrigada.

Chegou em casa de madrugada e teve ressaca no dia seguinte.
Dor de cabeça de quem vive.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Minha amiga mãe



Trouxe um jardim na mala,
Espalhou pelos cantos da casa as cores e o perfume.
Fez ainda mais feliz os dias da filha e do genro.
Juntas enfeitaram com bandeirinhas a janela
Festa julina foi a farra delas.
Grudadas foram às compras, todos os dias.
Café, conversa, bolo de fubá e cachaçaria.
Cozinharam juntas e tomaram o vinho.
Dormiram o soninho de começo de tarde encolhidas no sofá.

Pela primeira vez a filha cuidou o sono da mãe,
Como a mãe fazia quando ela ainda cabia no berço.
Enrolou os dedos no cabelo fino e gelado,
Fez cafuné enquanto sentia o conforto dos dias de criança.
Choraram pelo programa de TV.
E depois pra dizer tchau.

A vida longe não tem a mesma graça
Falta uma mão, um chão uma conversa sincera.
Fizeram planos pra se reaproximarem.
E já marcaram a volta dela.

É ela a amiga mais bonita. De toda a vida dela.

terça-feira, 15 de julho de 2008

janela do quarto




Caiu um balão aqui na minha mão

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E tem doce. Fino doce.
No Quitutes.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

A menina da Rua XIX

Ela estava em pedaços.
Jogada pelos cantos, trapos, farrapos.
Migalhas de algo que foi embora, sem que ela se despedisse.
Não disse (a)deus.
Sentia-se abandonada por ela mesma. Esquecida.
Sem coragem pra voltar atrás, perdoar, recomeçar.
Sem vontade de andar em frente, conhecer, viver, experimentar.
Tinha um sono constante. E leve.
Bastava um sopro pra que abrisse os olhos na madrugada.
E visse o breu.
O escuro onde se enfiou dia desses. Buraco negro.
Espera por resgate. Um engate que a leve dalí.
Precisa de um braço pra segurar. Ou uma corda pra enforcar.
Mas a verdade é que anda cansada demais pra fechar a mão. Fraca.
Quer ficar só.
De tudo só.
Sem ela.
Não quer mais ver no espelho as olheiras rodeando os pequenos olhos castanhos.
E assim não se vê.
Há tempos não se enxerga.
Escondeu os óculos, os livros e o interruptor.
Não fala mais.
Apenas responde, no automático. Apática.
Nem respira. Suspira.
Suspeita que já apagou.
Quer livrar-se delas.
De todo aquele burburinho dentro do copo de cerveja.
Não tem certeza disso, mas e daí.
Um analgésico, um anseolítico e um copo cheio de álcool.
É sono - Ela pensa enquanto abre a boca.
Não tem certeza disso também, mas e daí.
Ela dá de ombros enquanto desvia do reflexo.
Fica imóvel, na janela do quarto de dormir.
Lambe a lágrima no lábio.
Esperando a insônia passar.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Das perdas no caminho



Voltava do mercado carregada de sacolas: leite condensado, ovos, erva-doce, vinho tinto e Juno.
As crianças acabavam de sair do colégio e estavam amontoadas na calçada.
Ela parou em frente a faixa de pedestre, esperou sinal verde e desceu do meio-fio rumo ao outro lado da rua.
No meio do caminho, entre um passo e outro, a sapatilha do pé direito resolveu voar. Saiu sem nenhum aviso, subiu à altura de sua cabeça e foi parar no lado de lá.
Enquanto o rosto dela ficava vermelho, o menino de uniforme gritou:
- Olha!!! A mulher perdeu o sapato!
E caiu na gargalhada junto com os colegas.
Ela olhou para o chão, enfiou o pé no sapato e seguiu andando, pensando na frase do garoto.
Não perdera só o sapato.

Onde foi que deixou de ser a menina e virou a mulher sujeito da frase?

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Do lado de lá

De repente eu queria sumir daqui.
E aparecer lá.
Virar do avesso.
Ponta cabeça pelo mundo afora.
Sair de dentro de mim.
Ficar pra fora, sem chave.
Encostada na porta da sala de estar.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Classificados

Admite-se amigo.
Ambos os sexos.
Que tenha mais de 18 anos e disposição para a cervejinha de sábado.
Não precisa curso superior, mas é imprescindível que tenha vontade de aprender, e coisas a ensinar.
Exige-se experiência. Em qualquer coisa. Nem que seja uma coisa só.
Deve gostar de música, de prestar atenção nas letras e de ouvir centenas de vezes a mesma faixa.
É preciso saber ouvir. E saber falar também. Falar sobre tudo, mesmo que não conheça profundamente o assunto.
O candidato tem que saber chorar, e não pode ter vergonha quando as lágrimas aparecem. Pode ser por amor, de tristeza, de felicidade.
Tem que ter sensibilidade pra perceber o cheiro da chuva.
Deve saber cuidar de jardim. Cultivar pessoas. Evitar inimizades.
Não pode odiar. Não com todas as forças.
Tem que ser sincero, leal e divertido.
Precisa oferecer amor, sem cobrar por isso. E deve receber sem se obrigar a devolver.
Tem que gostar de pôr os pés no chão, sentir a grama, a areia ou o tapete da sala.
O amigo precisa entender de brigadeiro, de bala de chicletes, chá e café.
Precisa experimentar. Sabores, cores, vento e sentimentos.
Deve dançar. Não importa como, nem o lugar, mas mexer o corpo no ritmo ou fora dele é essencial.
Não pode ter medo do contato, de olhar nos olhos e de abraçar.
É muito importante respeitar.
Tem que acreditar. Em Deus, no destino, em si próprio, em ETs.
Procura-se um amigo pra dividir um riso entalado, um bolo de chocolate, um sofá e um filme sábado a tarde.
Procura-se um amigo pra somar.
Paga-se bem: Piqueniques na praça das tartarugas, cerveja e pastel no barzinho da floresta, tardes de sol na sacada, muita conversa fiada. Amizade gratuita e infinita.
Interessados devem tocar no 801.

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Ela ainda não se acostumou. Nem vai.
E embora tenha amigos espalhados por aí, não quer mais ser sozinha.

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Não quer mais concorrer.
As perguntas não fazem sentido.
Tá difícil.

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Tem quitutes!

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Ná e Ly - novas amigas de blog - me encheram de mimos.
E eu só posso agradecer!