segunda-feira, 31 de março de 2008

A carta.

Quando ela tentou ligar e não conseguiu,
correu na gaveta de cima e pegou uma folha em branco,
caneta em punho, foi escrever.
Não muitas linhas, apenas o suficiente.
Colocou todas as palavras no envelope,
juntou a elas o convite para uma agradável noite de casamento.
Fechou com cola. E mandou ele viajar, já pra Curitiba!

Ela só queria mesmo dizer que sente saudades.

Muita saudade.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Ricardão. Ricardinho.

Ricardo e todo o seu barulho completam hoje 21 anos.
Isso me faz perceber que sou uma irmã mais velha realmente mais velha.
Encanações a parte, o que importa mesmo é que esse menino grande continue assim, tão lindo!

Toda a felicidade que houver no mundo pra ele.

Meu orgulho de irmão.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Qual é a graça

Deu um sopro ligeiro, espantando o incômodo do ar.
Tentou arrancar dos ombros a tonelada e meia que repousava ali desde o começo da tarde.
Já é tarde, e tudo que conseguiu foi livrar-se da meia.
Tonelada e meia que sufocava os pés.
Nunca gostou daquilo preso no tornozelo, preferia os dedos livres, sentindo o chão frio com a sola encardida.
Estava ardida. Estranhando o corpo e o gosto amargo na boca. Que coisa louca.
Pensando onde é que perdeu as estribeiras. Não sabe. Nem vai procurar.
Vai tentar se esticar no sofá, fingindo relaxamento enquanto infla o diafragma. E depois murcha até sentir nas costas o umbigo.
Quem sabe se não tivesse que esperar... Ai então seria tudo mais fácil, tudo no seu tempo, sem tempo pra nada, sua impaciencia vencida pela velocidade, e a vida acontecendo na rapidez do seu pensamento.
Uma descarga, pra levar embora a cara enfezada.
Um descarrego, pra tirar dela essa pessoa chata que vez ou outra aparece estragando tudo.
Sem graça.

Aniversario

Da Re.
Da menina que conheci na casa das irmãs. Nossas amigas em comum. Nosso meio.
Bem no centro tinha um piercing. Dois. Que a gente quis trocar.
Trocamos os telefones quando ela precisou de um lugar pra morar.
Quando precisei de alguem pra dividir.
Dividimos tanta coisa.
O sofa, a TV, os cds, a comida. A metade do ovo de pascoa derretido. O frango assado de sabado. As angustias. O riso.
Ela me emprestou seu discurso do antes-so-que-mal-acompanhado
Eu apresentei a ela todas as minhas mas companhias
Passamos medo na lavanderia.
Choramos juntas os amores, dores e discuções
Vivi seu casamento.
Ela vai viver no meu.
Meu melhor presente seria uma tarde de nada. Sem trabalho. Sem gente.
Um dia daqueles de ouvir todas as musicas. De tomar champagne com morango.
Um abraço do meu, sem jeito, com todo o amor desse mundo.

Um Feliz. Feliz qualquer coisa, mas feliz.
Minha irmã cor de sol.

domingo, 23 de março de 2008

Em off

Foram tantos dias sem o MEU computador (que encontra-se com o teclado desconfigurado) que as paginas da agenda velha ficaram lotadas de rabisco.

Estes rabiscos:

Em frente ao predio, duas garotas conversam enquanto saio para a caminhada

Garota seca feito Kate Moss: - To obesa, preciso fazer alguma coisa urgente, to falando, to O-B-E-S-A!

Garota gostosa feito Sabrina Sato: - E EU entao, mais um pouco e vou explodir!

E eu: - Oi!

E enquanto eu me distanciava podia sentir o pensamento delas. Que menina fofa. FOFA.

E ficaram felizes por alguns segundos.

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Do livro:

- Mamãe, ja me decidi, quero ser leitora e escritora.
- Denovo filha!

(Denovo mãe.)

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Do amor:

Como e possivel encher tanto. Tanto.

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Telefone (20 de fevereiro):

Le: Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Fer: Bla bla bla
Le: Bla bla bla bla bla bla bla bla bla
Fer: Bla bla
Le: Te amo. Logo to ai.
Fer: To esperando. Beijo.
Le: Beijo.

Le: (risada de orelha a orelha, por seis ou sessenta minutos)

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Um amor de metafora:

Seria uma rosa, cor-de-rosa
Despedaçando-se toda por causa do sol. Aquele sol.
Sedenta de agua e de terra pra fincar os pes
Podada perde a graça, e quando passa os dias fica fraca
Deixa cair no chão as petalas sem vida, tão quietas
Falta ar, em em seu ultimo suspiro
Suspira por um jardineiro de mãos pequenas
Que segure seu corpo com gosto
E coloque cor em seu rosto
Rosto rosa.
Da Rosa.

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E quando ouve o elevador bate la dentro do peito
Ele gira as chaves na porta
E ela ri um riso descontrolado
Estao do lado. Um do lado do outro.

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Do pensar:

Preferia pensar menos.
Menos pensar.

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Daquele sol:

Eu era assim e fiquei assada.

quinta-feira, 6 de março de 2008

jogado aos seus pés

Podia ser menos exagerada
Mas a bolsa vermelha daria sinais de tristeza
Estranhava tanto o vazio, o espaço entre as paredes
E pra tapar o buraco colacava todas as palavras no superlativo.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Balanço da noite de ontem.

No buteco
Soprou um vento, e era ela.
Uma borboleta, e era ela.
Uns quatro olhos brilhantes de água, e era ela.
Um louva-deus, e bom, sei lá
Acho que ela não era um louva-deus.
Mas era verde,
verde louva-deus.

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É tão gostoso gostar.
E é gostoso respeitar o gosto de cada.
Um gosto que pra uns é desgosto.
Eu gosto do gosto de cada rosto.

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Ela fica ali, parada na sacada, regando a planta pendurada.
No sofá da sala
Passando café na cozinha
Deitada com a TV no quarto
Ela fica só cuidando da gente
E de uns tempos pra cá também cuida dela
Às vezes é assunto de boteco
E eu fico com ciúme de tanto que os outros gostam dela.
Mais orgulho que ciúme.

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Eu tinha um livro.
Ele espatifou com a doença do computador.
Tenho um livro na cabeça.
Vou colocar as letras no papel sem vírus.
Com a caneta que não da pau.

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Elas são tão legais. Tão.

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Um telefonema pra ela e eu:
Fico feliz porque recebo beijos e desejos de felicidade
Da menina que, na verdade, eu sei tão pouco.
Um telefonema pra outra ela e eu:
Converso com o homem de sotaque paulista
Que vem no meu casamento e já me coloca na lista de convidados para a sua própria festa.
Obrigada Graham Bell.

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Elas são mais legais ainda.
Ainda mais legais.

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segunda-feira, 3 de março de 2008

Contato e contratos

Estabelecendo contato.
Com o blogue, que abandonei quando meu computador me abandonou, levando consigo todas as fotos e páginas do meu 34° livro.
Daqui da máquina estranha, emprestada pra dar jeito no que tá de ponta cabeça. Minha cabeça.

Assinando contratos. Pagando. Escolhendo. Combinando.

Combinando de combinar mais umas horas pra vê-las. Ainda nem pude abraçar todas.

Tão feliz. Como sempre quis. Como era e tinha esquecido.
Esquecendo de digitar. Escrevendo à mão na agenda também esquecida em cima da mesa de casa.

Na casa onde eu sempre quis morar.

Depois que desembaralhar tudo eu volto.
Depois de pôr o retrovisor no lugar.

Vou matando todas as saudades.