sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Eu era eu

Bom foi me ver diferente.
Aceitar que meu gosto muda, tanto quanto o tempo lá fora
Que desisto fácil,
Que enjôo das pessoas.
Entendi que sou mesmo relapsa
Que muitas vezes não faço questão
Mesmo.
E que nada disso me livra do amor.
Aprendi a fazer de graça
Sem cobrar atenção
Não sofro mais
Ou menos
Apenas direciono
Não sinto pena
Mas me culpo pela incapacidade
Pela revolta sem atitude
Pelo meu gosto por ser cada vez mais
muda.

Bom mesmo foi me descobrir
Sem graça
Do mesmo jeito que fui aos 17
O jeito que gostei de ser.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Bagagem

Hoje você volta,
Me trazendo com você.

Quando você chega,
Eu volto também.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A maldição do amigo secreto.

Você já teve sorte em amigo secreto?
Então provavelmente você foi tirada por um azarado como eu.
Sim, somos uma espécie.
Um tipo que se esforça, pensa no presente alheio, sai por aí procurando alguma coisa que faça diferença, leva em conta o jeito da pessoa, pesquisa, colhe informações, tudo pra tentar acertar e deixar o amigo secreto feliz.
Pessoas que levam a sério a brincadeira.
Eu e mais uma meia dúzia de gente somos assim.
E eu e essa meia dúzia de gente somos justamente aquelas que sempre ganham o pior presente.
O pior presente nem sempre é horroroso, mas é aquele tipo que não tem nada, mas nada mesmo, a ver com você.
Aquela coisa que te deixa com cara de paisagem e que bloqueia qualquer reação que você possa ter.
Nem o melhor dos atores consegue disfarçar e expressar alguma satisfação.
Pense bem, certa vez eu ganhei um coelho no amigo secreto.
Não um coelho de pelúcia, nem de brinquedo.
Um coelho de verdade, vivinho da silva.
De olhos vermelhos e pelos branquinhos.
Um coelho que cagava bolinhas pretas por toda a casa.
E o que é que se pode fazer com um coelho?
Abandonar? Comer? Criar?
Depois do coelho morto (não matei, ele morreu por conta própria) ganhei uma coisa que até hoje não sei pra que servia.
Era uma lata com uns furinhos que imediatamente eu pensei ser um cofrinho, mas não era. Só se era um cofre de outro país, um país onde a moeda fosse consideravelmente menor que a nossa.
Enfim, era uma lata esburacada, que também não era um desses cinzeiros semi-modernos, mas foi justamente isso que ela virou.
Uma outra vez ganhei nada.
Nadica de nada.
Simplesmente o menino que me tirou esqueceu de comprar o presente.
Aí nesse caso o pior é a cara das outras pessoas, morrendo de dó.
Mas ganhar nada ainda é melhor que ganhar coisas que não servem pra nada.
Aí consegui ficar alguns anos livre dessa paranóia que assombra Dezembro.
Isso até hoje.
Meu amigo secreto tá dentro do meu bolso, bem amassado, e minha cabeça já começou a procurar alguma coisa interessante que custe até 40 reais.
Sim, porque amigo secreto tem disso, média de preço!
Tem gente que não sabe guardar segredo e conta quem tirou.
Gente que faz discurso.
Amigo secreto tem cada coisa que peloamordedeus.
Enfim, será que eu e minha meia dúzia de amigos amaldiçoados por essa brincadeira algum dia seremos compensados?
É o que veremos.
O que eu verei e contarei aqui muito em breve.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Bichano

Há dias em que sou um bicho
E me esticando feito um gato
Encosto meus pêlos no seu braço
Pra que me tome nas mãos
Me alimente
Me faça calma
Me dê cama
Banho de língua
E um copo de leite.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

27

Eu faço 27 anos amanhã.
E neste ano ganhei tanta coisa que só me falta praia, um bronzeado de leve, uma noite de jogatina e um show de rock de molhar a camiseta.
O resto tenho.
Tive.
Uma casa pra chamar de nossa,
Um emprego pra chamar de meu.
Dezenas de amigos.
Três famílias.
Sono.
Mais paciência.

Fui madrinha de casamento.
Sou madrinha da Julia.
Cozinhei.
Dancei diversas noites, entre o sofá e a TV, enquanto ele me assistia com a mesma empolgação de anos atrás.
Tive certeza.
Do nosso amor,
De dias melhores,
Das minhas escolhas,
De cada cor,
De como usar o cabelo.

Ganhei sorteio
E não perdi quase nada.

Faço 27 anos amanhã
E não vejo a hora!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Eu sou sua

Eu posso ser do jeito que você me quer
É só colocar sua mão gigante
No meio das minhas costas
E dedilhar todas vértebras da minha coluna
Uma a uma
Até amolecer minhas pernas

E então me entrego do jeito que quiser
Basta chegar bem perto
Na minha orelha esquerda
E me lembrar do que sou

Sua pequena
Tão miúda
No infinito do seu amor.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Imaginação

Minha cabeça borbulha
Idéias
Temas
Textos
Paisagens
Música
Vento
Eu
Você
Água salgada
Sol
Planos
Rascunho
Sentidos
E fim.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Desculpa esfarrapada

Pra você me perdoar te dou meu chocolate escondido no fundo do armário,
Minhas músicas e tudo o que elas significam
Te dou cada letra do mundo de textos que escrevo
Dedico o som de um riso difícil
Garanto um molho cheio de sabor pro seu macarrão de Sábado
Pra que me perdoe não me importo que ligue o ar condicionado
Assisto ao tiroteio que passa tarde da noite na TV
Diminuo o ritmo
Permaneço em silêncio pelo tempo suficiente
Não grito nem xingo,
Se você me perdoar.
Te entrego minha nuca, minhas costelas e tornozelo
Todo o ar
Um suspiro
Em troca daquele espaço no seu peito
Onde só encaixa minha cabeça oca
No meio da madrugada
Depois da gente brigar.


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sem riso.

Era uma menina que não ria
Não via graça
Desgraça,
Achava forçada qualquer gargalhada
No escuro do cinema.

Era uma menina com vergonha de ser triste
Que achava cinza o colorido dos outros
E pra disfarçar
Fazia de conta que tinha vontade de rir
E sem mostrar os dentes rasgava a boca de fora a fora
Rápido, mas não sem dor
Depois de uma piada mal contada.

Era uma menina que não ria
Quase nunca
Às vezes explodia
E sem saber o motivo
Se contorcia no chão
Gargalhando de alguma coisa sem graça
Até a barriga doer tanto
Que de tanto ela chorava.

Era uma menina com vergonha de ser triste
Que de tanto chorar
Assumiu que se entendia melhor com as lágrimas
Que com os dentes.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Desejos do meio da semana

Queria tempo pra tomar sol,
Pra experimentar ingredientes,
Tempo de enroscar minhas pernas nas dele,
Um tempo pra não fazer nada. Nada.

Queria uma praia. É preciso.
E um pouco de sal,
Arder,
Um vento à meia noite,
Sono no fim da tarde.

Queria música,
Enquanto caminhasse pela estrada de paralelepípedo
Na direção do mar
Sem relógio
Sem hora pra voltar.

Queria sair da frente desse computador,
já.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Quando acordo dormindo.

Meus sonhos não me levam a lugar algum. Me sacodem, passam feito filme, passeiam dentro das minhas veias. Misturam todos os personagens, colocam nome no rosto estranho, fazem o desconhecido parecer familiar. Meus sonhos acabam com meus dentes. Me mordo, morro, mato, respiro, abro os olhos e continuo neles. Eles não tem disciplina. Se confundem, repetem, me fazem suar. Meus sonhos não servem pra nada. Nada além de atormentar. Colocam asas em objetos, deixam tudo maior, invadem meu pequeno ser. Meus sonhos não passam de pesadelos.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sou só um vento.

Eu sou um vento
Que passa arrastando tudo
Levando as coisas
Os fatos, as músicas
Carregando as pessoas
Tudo pra um só lugar
E depois da bagunça, percebo
Eu sou só um vento
E não tenho onde te guardar.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Terça de sol

Na Terça estendeu um lençol no quintal dos fundos,
Tirou a roupa, pegou o livro da cabeceira e deitou-se com os olhos voltados pra uma manhã linda.
Sentiu o sol envolvendo seu rosto, suas costelas, seus pés sujos de terra.
Deixou queimar.
Ficou feliz ali, acompanhada de um copo d'agua, regando o manjericão.
Era simples,
Descoberta, descobriu que precisava de um tempo.
Poucas horas sozinha.
Pra lembrar de como era.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mato

Eu queria morar no mato
E andar pelada
E fazer um café do qual eu sentisse o cheiro
Deitar na grama, sujar os pés de terra
Queria assar biscoitos e ter tempo de confeitá-los
Enquanto lá fora, emoldurado pela janela, todo o mundo verde dança com o vento
Vento leve,
Lá no mato não faz frio
Nem calor de derreter.
É sempre bom,
E quando o sol vai embora preciso de um casaquinho de tricô feito por minha mãe,
Do abraço quente do meu marido
E de uma torta de frango que coloquei no forno antes de tirar um cochilo.
Quero ler tantos livros
Um atrás do outro
E aprender a desenhar
E passar a manhã ouvindo música
Depois dançar sozinha
E ser surpreendida pelo barulho da chave dele na fechadura da porta de madeira.
Um porta bem forte e rústica
Que guarda todos os nossos segredos
E isola qualquer dor
Porque no mato só sobra cócegas
Que eu faço em você antes de dormir
E logo depois de acordar.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Torrente

Foi tudo muito rápido
E então, quando se deu conta, já havia borrado todo o rímel
No meio da tarde
Em meio às coisas que tinha pra escrever
Junto com a chuva lá fora
Deixou lavar
Encharcando a gola da camiseta de água quente e salgada
Limpando com as costas da mão a maquiagem
Tentando eliminar os vestígios de tristeza
Querendo parecer feliz
Enquanto pensava que aquilo
Era aquela mesma angústia
Não ia embora por nada
Nunca na vida
Nem que virasse um chafariz
Nem que fosse onda
Por nada
A tristeza não era dela
Era ela
Desde o dia que nasceu.

E percebeu que mesmo com os poros ardendo
Com o rosto inchado
A boca vermelha
Mesmo assim
Com a tristeza lá dentro
Naquele espaço vazio
Invadida
Ainda assim podia ser feliz
Nos dias de sol.

Quando chove,
Transborda.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sou um suspiro

Um suspiro de fora,
Daqueles cheios de açúcar, enjoativo
Quebradiça, sensível ao toque, frágil.

Um suspiro de dentro,
Do fundo, cheio de cansaço, carregado
Louco pra sair dos pulmões e viver misturado com o ar lá fora.


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ressaca

Passado o fim de semana,
lembrei que algum tempo atrás,
Num passado nem tão distante,
Por mais que repetisse o chopp,
No outro dia eu era capaz de existir.

Hoje não mais.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sorteio PrasMocinhas!

Quer ganhar um modelador de cabelos Britania (que eu chamo de babyliss) + um super kit Higiderm da RM Distribuidora? Ta muito facil, e so seguir @RMDistribuidora no twitter e dar RT na frase: “Eu quero um Modelador Modelle Britânia + Kit Feminino EMS para concorrer siga-nos e de RT nesta msg http://kingo.to/8fV

O sorteio acontece amanha (17/09) as 21:00 horas e o resultado voce ve pelo twitter!



Dedos cruzados!



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Ah! Eu tambem to la, pra quem interessar: @letsinger

Trevo de quatro folhas

Voltei a ser uma menina de sorte!
Ganhei o sorteio do Três Brigadeiros!

Maíra, já to esperando o próximo ;)

A culpa é de quem?

Você já tentou convencer o convencido?
Não perca tempo, é tudo perdido.
Nenhuma explicação, nem mesmo pesquisas, sequer um desenho
Nada disso faz sentido.

O convencido já venceu,
Ganhou a luta que travou com si mesmo,
Detonou ele próprio,
Decorou frases de efeito
E usa todas ao mesmo tempo.

Ele sentou na enorme cadeira
Convencido da posição que ocupa
Pediu aos outros que ficassem de joelhos
E assumissem toda a culpa.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Amora

Aquela caixinha de amoras no Mercadão me causou imensa nostalgia.
Minha boca manchada de preto, o sabor inconfundível, os primos, os pés descalços na grama.
Aquela caixinha de amora me fez amar um tempo.
Faz muito tempo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Check list do fim de semana

  • Sol
Ler o livro da cabeceira
Sentar num boteco com meu irmão
  • Usar a camiseta nova
Comprar flores
  • Fazer um bolo de chocolate
Encher a cara
Tomar uma coca de garrafa gelada no dia depois de encher a cara
Um frozen yogurt
  • Deitar no sofá
Rede
  • Desligar a cabeça
Ligar o som
  • Andar descalça
Pregar os quadros
Dançar na sala
  • Namorar meu marido
  • Passar creme no cabelo
  • Cochilar
Alongar
Encontrar o longo amarelo
  • Almoçar com as meninas
Banho de mangueira
  • Sashimi
  • Casa da mãe
  • Regar as plantas
  • Namorar mais um pouco meu marido
  • Rir
Amassar um pão
  • Dormir

16 de 30.
É razoável.
Prometo melhorar no próximo.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Para o fim de semana

Sol
Ler o livro da cabeceira
Sentar num boteco com meu irmão
Usar a camiseta nova
Comprar flores
Fazer um bolo de chocolate
Encher a cara
Tomar uma coca de garrafa gelada no dia depois de encher a cara
Um frozen yogurt
Deitar no sofá
Rede
Desligar a cabeça
Ligar o som
Andar descalça
Pregar os quadros
Dançar na sala
Namorar meu marido
Passar creme no cabelo
Cochilar
Alongar
Encontrar o longo amarelo
Almoçar com as meninas
Banho de mangueira
Sashimi
Casa da mãe
Regar as plantas
Namorar mais um pouco meu marido
Rir
Amassar um pão
Dormir.


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Poderia ser eu



Tive que olhar dezenas de vezes seguidas pra acreditar que são pinturas.
Não só pela perfeição dos detalhes, mas também porque cenas assim são pra mim uma realidade.

"As pinturas ultra realistas do norte americano Lee Price impressionam tanto, que chega a ser difícil acreditar que não sejam fotografias. Seus desenhos envolvem características peculiares do dia a dia feminino e é muito fácil se ver retratada nas imagens que ele cria.

A relação com o corpo e a comida é a temática central de seus trabalhos. O curioso é que nós, mulheres, sabemos bem como compensamos na comilança e as relacionamos com as nossas angústias. E isso foi tão bem retratado por um homem.

Lee já ganhou três prêmios de instituições de arte conhecidas e respeitadas como do Arnot Art Museum, de Nova York. E no mês de setembro o seu trabalho estará em exposição na Sarah Bain Gallery, na cidade de Anaheim, na California." Revista TPM


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

sábado, 4 de setembro de 2010

Isso sim, aquilo não

Escolhi andar por aí com o cabelo desgrenhado
Passar esmalte vermelho nas unhas dos pés
Gostar tanto de Elvis
Passar horas na cozinha
Escrever pra ganhar dinheiro
Escrever de graça
Escolhi meu marido e sua barba
Não usar salto alto
Amar
Coisas e pessoas
O mar.

Minha escolha mais recente é não votar em gente que joga santinho no chão da minha garagem.

Escolhi assim.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sem riso.

Logo que a dentista terminou de colar os quadradinhos metálicos os olhos da menina encheram de lágrima.
De ódio.
Era a segunda vez que se submetia ao tratamento.
Mas era incomparável.
Porque na primeira, sabe lá quantos anos atrás, usar um aparelho era questão de encaixe.
Não da mordida, encaixe no grupo.
Usar aparelho era pertencer a uma tribo, ter assunto, discutir feridas, mordidas cruzadas, dentes tortos, cor das borrachinhas, dor, enfim, era legal.
Verdadeiramente legal.
Mas nesta segunda vez a menina não teve nenhuma boa lembrança.
Pensou que podia ficar como estava.
Mas lembrou que ultimamente mordia muito mais a própria língua do que a carne do boi.
Tratar era preciso.
Se achou feia. Muito mais feia.
Com cara de Betty.
Com jeito adolescente.
Chorou como tal.
Mas enquanto esperava mais um pedaço do aparelho, foi sentindo um certo conformismo.
Logo acaba, ela pensou contando anos como semanas.
-Abre a boca, vou colocar uma plaquinha pra corrigir a mordida.
-Ah é?

E esse foi seu último suspiro.
Depois disso mal podia falar.
Nem comer.
E então engoliu o ódio no almoço.
E ficou feliz por emagrecer.


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Vazia

Na minha boca mora tudo que preciso
Os sabores, o beijo, as palavras
Tudo ali, na ponta da língua.
E então Sábado perdi a vontade
Desde o minuto em que colaram pedacinhos de metal nos meus dentes
E acrílico cor de rosa no céu da minha boca
Me perdi.
Não sei mais falar, nem comer, nem ser.
Eu sem minha boca,
Não sobra ninguém.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Livro

Era uma vez uma vontade infantil:
Que eu não me importasse com você.
E você não quisesse saber de mim.
Mas que desejássemos profundamente,
Sem mentir,
Nem fingir,
Um felizes para sempre.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A gravidade de uma gravidez

Renata está grávida.
É grave, pense bem.
Ela agora pensa mais nas roupas do bebê.
Pensa se ele ou ela.
Como fazer pra colocar nas roupas que gosta a barriga que nunca gostou.
Agora ama.
Passa as mãos, de leve, com força, rápido, lenta, freneticamente.
De um lado para o outro,
Por todo o ventre, que ainda é quase vazio.
Não fosse a sensação de tamanho preenchimento,
Não fosse a vontade de tomate e vinagre. Muito vinagre.
Não fosse a cara de babão do pai.
Não fosse todos esses sintomas de felicidade imensa,
Renata ainda seria a mesma.
Mas tudo lá dentro mudou,
Eu mesma vi, pelo lado de fora.
Nos olhos de açaí
Na voz macia
No sono.
Eu senti Renata grávida.
E aquilo tudo me fez melhor.
Meu Domingo melhor.
Meu sono melhor.
Minha vida ainda melhor.
Imagina então a vida dela.
Pode imaginar,
Ela quer passar os dias no sofá
Olhando o próprio umbigo
Aquele que era tão dela
E que agora compartilha sem medo
Com o serzinho indefeso
Que vive por ali
Bem no meio dela
No centro de toda a sua vida.
Renata é grávida.
Do jeito que só Renata seria.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Oi, tchau

A verdade é uma só:
Eu não gosto de me apresentar.
Acredito que as pessoas devem se conhecer pelo piscar
pelo estralar de dedos
pelo som da voz
como usam o cabelo
sapatos
esmalte
calça
pela música que ouvem
pelos minutos que calam
pelo que comem
gestos
como sentam
cruzam as pernas
O que fazem no Sábado
na Quarta
como dançam
com quem andam
o que assistem
se assistem
Estuda?
Cozinha?
Dirige?
Nada?
pelo jeito de andar
de cumprimentar
de abraçar
de beijar
bochecha ou boca?
Que lugares visitou?
Onde quer ir?
Pelo cheiro.

E aí, depois de registradas as informações, não importa mais o nome.

É assim que me apresento.
É assim que conheço alguém.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Meu Lobo da Estrada


Meu pai é incrível.
De verdade.
Ele é inédito, único, extraordinário.
Tem suas próprias convicções.
E um jeito insistente de tentar nos convencer delas.
É um sujeito engraçado, bem humorado, feliz.
Não mede esforços pra atingir os sonhos.
E sonha com quem precisar de imaginação.
Meu pai voa.
Mesmo que tenha que engolir a seco o medo.
Mesmo com a barriga congelada
Ele vai pro alto.
E pode te levar com ele.
Basta querer.
Meu pai não conhece marcas de roupa.
Guardou por muito tempo todos os seus pertences em uma caixa de papelão.
Em baixo de outra caixa.
A caixa d'água onde ele, de repente, quis morar.
Meu pai vende carros.
Lada, Gurgel e SP2.
Dá conselhos.
A quem quiser ouvir.
E a quem não quiser também.
Ele canta, é primo do Rei.
Faz da vida uma música.
Que toca todo dia a noite, em algum canto do labirinto do meu ouvido,
Baixinho, sem instrumental algum,
Até que eu consiga dormir.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Tentando ser o pastor

"There’s a passage I got memorized. Ezekiel 25:17. The path of the righteous man is beset on all sides by the inequities of the selfish and the tyranny of evil men. Blessed is he who, in the name of charity and good will, shepherds the weak through the valley of the darkness. For he is truly his brother’s keeper and the finder of lost children. And I will strike down upon thee with great vengeance and furious anger those who attempt to poison and destroy my brothers. And you will know I am the Lord when I lay my vengeance upon you. I been sayin’ that shit for years. And if you ever heard it, it meant your ass. I never really questioned what it meant. I thought it was just a cold-blooded thing to say to a motherfucker before you popped a cap in his ass. But I saw some shit this mornin’ made me think twice. Now I’m thinkin’: it could mean you’re the evil man. And I’m the righteous man. And Mr. 9mm here, he’s the shepherd protecting my righteous ass in the valley of darkness. Or it could be you’re the righteous man and I’m the shepherd and it’s the world that’s evil and selfish. I’d like that. But that shit ain’t the truth. The truth is you’re the weak. And I’m the tyranny of evil men. But I’m tryin’, Ringo. I’m tryin’ real hard to be a shepherd."

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Das muitas paredes

As paredes têm ouvidos
Narizes
E bocas
Cheias de dentes
E uma voz estridente

As paredes são tudo
Menos paredes
Não sabem separar
Lobo e Chapeuzinho

As paredes são feitas de pele
Apesar de frias
Tal qual concreto.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Minha unha vermelha lascada

Ter um trabalho me faz melhor
Porque penso menos em acidentes de avião
Não sonho mais com bebês que tem rosto de cachorro
E esqueço de limpar o piso branco a cada minuto.

E me faz pior,
já que tenho enxaquecas
E desde a véspera do meu casamento no civil
Eu não tinha enxaquecas.

Também me rouba o tempo de passar acetona nas unhas
E de cozinhar as receitas que se acumulam no meu imaginário.
Trabalhar me faz deixar o edredom embolado em cima da cama
E a pilha de roupas crescendo na lavanderia.

Em compensação me permite comprar a vista as flores e ervas que quero plantar no jardim,
No Sábado.
E tive que aprender melhor matemática
Pra dividir em muitos pedaços o fim de semana
E ajeitar a bagunça, pendurar os quadros, namorar meu marido, assar pão, passar creme nos cabelos, ver um filme, ver amigas, ver minha mãe, ir no casamento, almoçar com o pai, tomar cerveja, vinho, água, lavar a calçada, pisar na grama e dormir.

Meu trabalho me fez descobrir que gosto de dormir.
E isso é novo, porque sempre fui a primeira a acordar, e acordava os outros, e era odiada.
Agora só penso em travesseiros e na forma como minha cabeça agitada se ajeita na espuma macia.

Meu trabalho me deu uma pele seca, porque não quero mais passar hidratante, e deixo minha canela parecendo as terras rachadas de algum sertão do Brasil.
Mas se no fim de semana, entre ler uma revista e fazer um capuccino, se depois da soneca no sofá me restar energia, eu prometo que encho a palma da mão de meleca e espalho com paciência por todo meu corpo cansado.

No mais, vai tudo muito bem.
E minha auto-baixa-estima já sente seu mundo subir.
Logo depois do primeiro salário,
Vamos rir juntas desses longos 29 dias
Em algum boteco de esquina.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Barriga

Na minha lista de desculpas esfarrapadas, que uso pra justificar a mim mesma a série de comportamentos obsessivos que me perseguem,
Ou que eu persigo,
Aparece em primeiro lugar
Absoluta
A desculpa preferida
A mais bem amarrada
A mais usada
A mais absurda
E controversa.

A "desculpa aí, mas não consigo fazer dieta"
Porque pra mim regime e tristeza são semelhantes
Irmãos
Rute e Raquel
E eu simplesmente me nego a passar longe de um brigadeiro
E do feijão com arroz e molho de pimenta
Da xícara fumegante de capuccino
Do pastel da feira
Vinho tinto, queijo e pão italiano
Sorvete
Empada de palmito
Bala de caramelo
Coca Cola de garrafa de vidro - Normal, por favor!

E me deprime a gordurinha aqui e ali
Mas não sei o quanto
Menos que a falta de carboidratos, fato.
E eu me olho e não enxergo
E acho que estou bem o suficiente pra repetir o almoço.
Detesto recusar comida porque estou de regime,
E me conformo vendo Nigella lambendo os dedos
Linda e comilona.

Amo tanto a comida que me permito não entrar no jeans
Porque se ele não me quer
Tenho um chocolate que, apesar de amargo,
Me ama, mesmo em meus vestidos larguinhos
E me deixa satisfeita
Derretendo lentamente
Bem no meio da minha língua.




segunda-feira, 19 de julho de 2010

A fila de formigas

Elas entraram todas, tenho certeza
Aquelas pequenas formigas que seguiam lentamente, uma atrás da outra
Rumo a parte superior do armário de cozinha vermelho
Onde não se guarda comida e, portanto, não me pergunte
Eu não sei o motivo da procissão,
Então, como eu dizia
Aquelas formigas transparentes
Cor de caramelo transparente
Fizeram a volta
E decidiram morar na minha barriga
E dividem o lanche ruim que comi no almoço
Me perturbam
Me coçam
Andam de um lado pro outro
Chegam a escalar minha garganta
E voltam atrás, fazendo cócegas insuportáveis
Que me fazem lembrar
Como dói a saudade de você.

É uma picada,
Que fica coçando
Até que de repente
Você rompe a porta
E eu devolvo as formigas
Uma a uma
Pra parede da cozinha
Rumo ao armário vermelho
De guardar pratos vazios.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Amor pelas batatas

Hoje, durante a corriqueira passada de olhos pelo G1 me deparei com a mais linda das notícias (ou seria batata?)


"O agricultor alemão Andreas Klein mostrou nesta quinta-feira (15) uma batata em forma de coração. O tubérculo foi colhido em sua propriedade em Wiesbaden, na Alemanha. (Foto: Fredrik von Erichsen/AFP)"

A falta sua.

Só de saber que logo você viaja
Me embrulha o estômago
Me aperta a vontade de encostar na pele das suas costelas
De enfiar os dedos entre seus cabelos.
Me parece sair sem cooredenação os "te amos"
No volume errado
Fico criança
Me sinto sozinha
Agachada no chão do banheiro
Esperando você de volta
Mesmo antes da sua saída.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A bula

Eu preciso te falar
De toda a raiva de hoje
Do quanto estou chateada
De como doi meu estomago
Da minha vontade de vomitar
Das bobagens que fiquei pensando depois que voce saiu de casa
Dos medos que tenho
E daqueles que sao despertados quando a gente grita.

Tenho que dizer que nao entendo
Que acho estranho ainda assim querer
Que nao me arrependo
Que tenho razao
Que nao quero que isso aconteca denovo
Que sinto muito por nao me sentir culpada.

Preciso explicar que mesmo quando nao digo, te amo
Preciso que entenda
Que nao me suporte
Mas espere a raiva passar.
Preciso que me de tempo pra voltar ao normal
Que preste atencao
Que volte atras
Mas nao esqueca.

Saiba da verdade
Do meu querer bem
Das angustias que tenho
Da minha paixao que nao passou
Do meu ciume
Interprete meus gestos
Leia meus olhos
Me olhe
Aprenda

Nao me machuque
Nao me leve tao a serio
Me deixe exagerar
Nao me peca paciencia
Releve minha ironia
Decore meu ciclo menstrual
E me traga uma flor do mato
Pra remendar o estrago
De minutos atras.

sábado, 3 de julho de 2010

Nossas diferenças

Eu gosto de tudo que voce gosta,
Quase tudo.
Nao fosse o rap, a alface e os programas policiais,
Nao fosse isso.
Mas eu gosto de como suas coisas lhe caem bem.

Gosto que voce nao use camiseta de basquete furadinha so porque gosta de rap.
Gosto que nao faca barulhos estranhos com a boca enquanto escuta essas suas musicas.
Gosto muito que nao me faca ouvi-las.

Seu gosto por alface entao, esse, ao meu ver, e fantastico.
Seu gosto por alface me faz sentir obrigacao de comer salada antes do almoco, e isso nao pode ser ruim, exceto pelo sabor.
Gostar de alface te faz saudavel e gostoso.
Do jeito que eu gosto.

Os programas policiais eu nao consigo entender.
Mas gosto de discuti-los a noite com voce, e tirar sua atencao da TV enquanto explico pela milesima vez que nao precisamos acinzentar ainda mais essa vida que desbota com tanta facilidade.
Vamos ver comedia.
E voce muda de canal.
E eu nao preciso gostar do seu gosto.
Mas deixo que voce veja tiros, perseguicoes e documentarios sobre o trafico enquanto durmo no seu colo, encolhida no nosso sofa.
Fecho os olhos e gosto.

Voce deve gostar de quase tudo que gosto.
Mas bem quase mesmo.
Porque eu sei que e dificil para um homem assistir Sex and the city no cinema, no dia da estreia, em uma sala lotada de mulheres.
Mas voce vai.
Porque deve gostar da minha companhia.

O meu rock and roll pra voce tambem nao deve ser muito facil.
Nao a musica em si, porque dela eu sei que voce gosta.
Mas deve ser meio estranho ver sua mulher na frente de um palco, descabelada, com copo de bebida na mao pedindo musicas que obviamente a banda nao quer tocar.
Reconheco que passo dos limites quando se trata Beatles, Led, Doors, Ramones, Raul e Velhas Virgens.
Mas voce entende.
E me tira dali antes que eu de vexame.

Meu gosto por comidas tambem causa divergencias.
Porque sei quevoce adora que eu faça.
E gosta de me ajudar.
Mas quando chega a hora de comer sei que voce se preocupa,
E nao gosta muito da quantidade que aguento.
Porque me lembro bem daquele dia,
Na casa da minha mae
Quando eu gostava muito de comer ovos de chocolate
E gostava mais ainda de ter um ovo metade preto, metade branco, tamanho 20, so pra mim.
E comi um pedaco preto, e um branco, e mais um preto, e mais um branco, e comecei a juntar o preto com o branco, e fui comendo ate ver o fim.
Voce nao gostou.
E me pediu pra nao ser assim.
E eu nao gostei.
E tive vontade de comer mais uns 3 ou 4 bombons.
Mas me contive.
Por gostar de voce.
E saber que voce gosta de mim.

Tem coisas que a gente gosta igual.
E aquelas que voce me ensinou a gostar
E outras que eu quis que voce gostasse.

Mas a gente gosta mesmo um do outro.
E de tudo que somos.
Sem querer saber porque.

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Ah, gostaria de avisar que a resposta para o post anterior e sim.
Sim, se desejarmos de verdade o que a gente quer, acontece.
Do dia pra noite.
Sim.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Eu quero, eu quero, eu quero!

Será que quando a gente quer muito alguma coisa pode consegui-la apenas fechando os olhos, apertando bem os cílios contra as maçãs do rosto, e desejando incontáveis vezes, pensando bem forte, num grito imaginário?

Será?

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Bem-me-viram

As 7 da manha eles se aproximam da janela
E sem cerimonia alguma, desprovidos de sutileza
Me entregam a mim mesma
Falando de algo que tentei disfarcar
Gritando para quem quiser saber

Bem-te-vi!

E eu acordo assim, acusada de ter feito alguma coisa
Fui vista!
E nao vi ninguem.

Eles me tiram do serio - e da cama -
Estico os labios em um sorriso desconfortavel
Dou bom dia aos meus pequenos vigias
Que descem la do alto
Da infinitude azul
Pra me lembrar que nao estou sozinha.

Bem-me-viram.
Ainda bem.

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O teclado desconfigurado faz parte de uma serie de coisas que ainda estao fora de seus lugares. Ele ha de voltar ao normal, junto com a bagunca amontoada no quartinho.
Paciencia.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Enquanto isso...

Vou deixando à mostra
Colocando em ordem
Esquecendo aos poucos o velho
E dando corda pro novo.

Deixo ele entrar
Sentar na beira do sofá
Me acompanhar na xícara de café
No chá.

Me acostumo comigo
Suporto tudo que trago
Me ajudo
Consolo
Estico as pernas enquanto fico de cabeça pra baixo
Relaxo.

Respiro com força o ar geladinho que vem de fora
Guardo no peito
Penso em não pensar
Pra limpar a mente
Refrescar a memória
Sopro
Tudo de uma vez
Empurrando o vento entre os lábios.

Estou quase em paz,
Mais uma vez.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Caixas

Em meio às caixas, plástico bolha e toda a poeira que paira
De repente, num minuto em que o sol entrava pela parte superior da janela
Eu abri, junto com um pacote esquecido, algo que de tão fechado parecia morto.

E coloquei pra fora tudo o que havia guardado,
Para meu próprio (e único) bem.

Gritei.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Antes de dormir

Ontem, enquanto falava com sua mente tagarela, sentiu-se invadida por tantos questionamentos:
-Porque você é assim?
-Porque se conforma?
-Porque não grita?
-Porque tem medo?
-Porque enrola essa mesma mecha de cabelo nos dedos desde quando nascemos?
-Porque não me dá atenção?

Começou a sentir um enjôo estranho, uma ansia, uma raiva.
Tentou controlar por alguns segundos, mas a mente incansável não parava de perguntar coisas para as quais ela não tinha resposta:

-Como pode não sentir vergonha por não trabalhar?
-Como consegue não gostar de celular?
-Como faz pra dormir um sono tão pesado sem remorso?
-Como pode não se importar?
-Como faz pra esquecer?
-Como faz pra fingir esquecer?

Intimidada e sentindo-se invadida deu um basta na situação:

Ela: -Pára, fique quieta, chega disso. Não quero mais ser perturbada por você, preciso dormir.
A mente: -Então tá querida, nos falamos amanhã.
Ela: -Não, você não precisa vir amanhã, nem depois de amanhã, nem nunca mais. Já basta de tanta interrogação, isso nunca vai dar em nada, você não percebe que há dias passamos a noite assim, discutindo em torno de algo que não pretendo mudar?
A mente: -Mas você é tola mesmo, é claro que quer mudar, só não sabe como.
Ela: -E você por acaso sabe? Pode me ensinar?
A mente gargalhou de forma estridente.
Ela: -Tá rido de que sua loca?
A mente: -Da sua ingenuidade. É claro que não vou ensinar nada, meu papel não é esse, venho aqui apenas pra te atormentar!

Sentindo-se derrotada ela virou-se de lado, abraçou o travesseiro e disse baixinho:

-Vá agora, nos falamos amanhã.

sábado, 29 de maio de 2010

Marie

E ontem, enquanto jogavam fora a conversa nada descartável, lembrou-se do aviso da outra amiga.
Ela sabe que não deve ficar cutucando casaca de ferida, mas acha que quando verbaliza faz parecer verdade sua imaginação.
Foi em frente, deu asas:

- Já te expliquei como é quando me encontro com ela, eu sei da real situação, mas ela fica ali, junto com a gente, como se nem ligasse.
- Sei como é, eu nunca a vejo.
- Eu vejo sempre, mas dessa vez ela se despediu, acho que não vai mais voltar.
- Ah é?
- É, mas disse que não precisamos nos preocupar, porque ela é agora um pedaço da gente. Um pedaço de cada uma de nós.

E é.

sábado, 22 de maio de 2010

Minha querida TPM

No próximo mês, quando você estiver a caminho me avise.
Mas avise de forma convencional, e não com aquela enxaqueca horrorosa que você costuma mandar, assim posso preparar o terreno pra que sua estada seja confortável (se é que isso existe).
Se você me der um tempo, posso intensificar os treinos e correr para amenizá-la, li isso em uma revista, lá diz que assim nossa convivência forçada pode ser menos desagradável.
Quem sabe.
Você podia também me alertar da avalanche de emoções que trás na mala, porque francamente, eu já não sei mais como justificar meu choro incontrolável na abertura do caldeirão do Huck.
E dê um tempo nas cólicas, contente-se em me deixar sensível até as pontas dos dedos.
Se puder me indique um creme que ajude na hora de desembaraçar os cabelos, porque eu sei que você nem percebe, mas sua presença desperta no meu couro cabeludo as mais estranhas sensações.
Vá com calma.
Querida, atente para o tempo que me toma.
Não fique mais que o necessário - isso é mesmo necessário? - eu não quero parecer frágil, neurótica, nervosa e ansiosa 10 longos dias.
Eu não aguento.
Mas veja bem, TPM dos infernos, eu estou tentando estabelecer entre a gente um diálogo honesto, porque sei do que você é capaz e não ouso expulsá-la da minha vida, mas sejamos discretas.
Me incomode de um jeito que eu possa disfarçar, me permita conversar com as pessoas sem ranger os dentes e eu não volto a reclamar.
Procure outras pessoas para chatear, mostre àquelas meninas estranhas que dizem não sentir nada, nem vontade de chocolate, o mal que você me faz.
Não deixe que elas debochem do meu mal estar.
Me deixe estar mal.

Te vejo no mês que vem, por favor, mais comportada.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

De fora pra dentro

Ela olhava pra fora tentando esquecer o burburinho ali dentro
E se deixasse o cabelo solto, a cara lavada e os braços abertos?
E se tentasse de verdade soltar as amarras, vencer o medo, livrar-se de si?
Se fizesse isso ao menos uma vez, não seria suficiente?

Ela olhava como quem quer ser livre, sentia como se fosse voar
Mas enquanto pensava deixava ser abraçada pelo pânico
Aquele covarde
Não quer mesmo deixá-la em paz.

domingo, 16 de maio de 2010

A chateada

Ela pensou, então, que era assim que se sentia uma pessoa verdadeiramente triste
Assim, muda
E esperou um pouco pra ver se passava
Mas viu que perdera de vez as palavras
E ficou olhando o fracasso
Sem dizer absolutamente nada.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Elo

O que é que foi da gente?
Eu me vi procurando ontem por coisas nossas que não sei mais onde estão.
Tão longe, transformaram-se em impossíveis nuvens palpáveis
Dissolveram-se
De forma tão natural que só me fizeram sentir dor agora
Quando restou o vazio
Quando pensei em você.

Não daquele jeito de ontem.
A gente ainda se reconhece, eu sei
Mas você também não me acha mais
Não me vê no meu novo modo de andar
Nem nas gírias que uso quando tentamos conversar.

E apesar da falta de tato sobra calor
Uma sensação estranha de bem querer
E uma vontade enorme de prosseguir
Nos dias em que consigo agir
Quando ouso te telefonar.

E jamais falamos nisso, nem eu nem você
Porque uma conversa franca pode detonar o pouco de nós que ainda resta
Então ficamos assim, uma segurando o dedinho da outra
Torcendo pra não errar o dia
Pra encontramos um jeito
E acertar a hora de recomeçar.

E eu lembro de tudo que fizemos de bom
E sinto o mal que conseguimos causar
Eu em você
E você em mim
Sem desesperar
Sem esperar por perdão
Sem querer perdoar.

Seguimos assim
Eu me encontrando em você
E você se procurando em mim.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Bodas de Algodão

Ainda bem que escolhi você
Pra dividir os dias
Pra compartilhar a cama
Pra tomar banho junto
Pra me acordar com beijos
Pra assistir seriados
Pra entrar no mar
Pra ouvir meus dramas

Ainda bem escolhi você pra marido
E pra dizer te amo todos os dias.

Fez dois dos muitos anos.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Não resisti

Fico passeando por esses tantos blogues de maquiagem, esmaltes, moda e afins e desde então me apaixonei por essa marca Londrina que é a Eyeko. Tudo porque a embalagem dos produtos é linda e ao mesmo tempo despretensiosa, bem longe de parecer com aquelas luxuosas douradas e pesadas armaduras que vestem os cosméticos do pedigree Chanel, YSL, Lancôme e por aí vai.
O preço também é bem camarada e o frete não assusta, sem contar que podemos rastrear o pedido pelo próprio site da marca.
Os esmaltes são a parte mais legal da coisa, os nomes são tão divertidos quanto as cores e tem umas promoções bacanas do tipo leve 5 pague 4.
Tive que comprar.
Aí, pra aproveitar a sacola eu escolhi um lápis de olho com duas cores (preto com glitter e prata) e um Eyeko Cream que é um creme facial 3 em 1: hidratante, iluminador e creme para a área dos olhos.
Dei uma bobeada legal na hora de fechar o pedido e não coloquei o código para ganhar brinde. Bem burra, eu sei.
Mas enfim, meu pedido chegou bem rapidinho, em 20 dias, e eu amei tudo.
Principalmente o esmalte lilás da foto.


For Lovely Nails!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Vida de gente grande (?)

Eu acho tão legal essa parte que começa agora
Da gente falando sobre lâmpadas, metais para o banheiro e estampa de papel de parede
Eu acho que era isso mesmo
Que a gente esperou o tempo passar só pra passar por isso
Pra dividir o quarto apenas no imaginário

Eu acho que não consigo mais controlar a ansiedade e por conta disso devorei a caixa de bis que você deixou em cima da mesinha do computador
Acho que perdi a vergonha na cara
Que não tenho mais motivos pra disfarçar o riso
Parece que agora já está bom
E o melhor não está por vir porque já chegou
E vai ficar.

Você sabe disso?
Dessas coisas que vão atravessando as veias, flutuando no sangue, atingindo toda parte do meu corpo?
É como estourar champagne, encher a taça e beber correndo pras bolhas estourarem todas por dentro.
Como cócegas, daquelas que você faz nos meus pés quando percebe que passei uns minutos sem fazer nos seus.

Eu acho mais que legal viver assim, com você.
A gente querendo ser grande, protegendo o outro, escolhendo nomes.
Você sempre gosta dos nomes que eu escolho.
E assim eu gosto ainda mais de você.
Porque parece certo, e é intensamente agradável.

É um amor te amar.
Um amor.

O esforço nosso de cada dia

Levanta cedo, faz café, come banana
E corre
Pra esquecer dela mesma e pensar somente nela
Assim mesmo, de um jeito estranho
Contraditório, permitindo inverter e misturar
Sem regras, traçando planos
E corre
Menos do que gostaria, mais do que pode
Ela tenta manter a velocidade,
Mas permite desacelerar pra variar
Pra aliviar o rosto vermelho
E escorrer no suor a sujeira
E corre
Porque assim deixa pra trás os problemas
Fingindo estar sempre à frente
Longe, muito longe
E cada vez mais perto de onde quer chegar.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Azedo

Talvez eles não saibam quem ela é
Não gostariam nada, nada mesmo, se descobrissem
Não estão prontos para isso
Fecham os olhos para seus defeitos, tapam os ouvidos quando ela dá um grito, preferem manter distância.

Porque assim é mais fácil para eles.
E muito mais difícil para ela.
Vai que só ela gosta dela mesma?
E nem tanto, porque, convenhamos, às vezes é bem complicado suportá-la.

Ela sente muito por ser assim, muito mesmo
Muito mais do que aguenta
O bastante.

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Vontade de morar dentro da Baleia, junto com Jonas.

"Dentro da baleia a vida é tão mais fácil
Nada incomoda o silêncio e a paz de Jonas.
Quando o tempo é mal a tempestade fica de fora,
A baleia é mais segura que um grande navio."
Mestre Jonas, Sá e Guarabyra


quinta-feira, 15 de abril de 2010

Uma delícia de manhã

Jennifer Causey, Simply Breakfast


Sou viciada em café da manhã.
Em café.
Troco a janta por uma mesa de biscoitos, frutas, e bolos.
[Quase] Nunca teve janta na casa de minha mãe
Não tem na minha também
Ou tem, mas a janta é café
Café da noite.

Gosto mesmo é de pão
Mais que de comida de almoço
Pode ser salgado ou doce
Quente, com manteiga
Francês crocante
Caseiro macio
Integral.

E comidas de café de pousada também são bem vindas
Ovos mexidos podem vir com bacon
Mas depois das férias é melhor deixá-los de lado
E meter a cara em uma tigela de cereais, mel e leite gelado
Meio mamão papaya
Uma banana amassada com aveia

E aí vem o café
Expresso, sem leite
Com espuma, pra variar.
Quando é inverno escolho capuccino
Mas não dispenso as xícaras miúdas de puro pretinho no meio da tarde.
Para o café, nunca é tarde.
Não para mim.

E aí hoje, só hoje, descobri a maravilha que é este blog e as milhões de possibilidades que um café da manhã oferece.
Muito além do pão com manteiga.
E da minha obsessão por café.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sobre a coragem

Não me considero corajosa, mas me sinto um pouco quando assumo minha covardia.
Você já percebeu como é estreita a diferença entre o covarde e o corajoso?
Como a definição depende muito do ponto de vista de cada um?
Enfrentar medos, angústias, superar aquilo que parece impossível é corajoso.
Aceitar as limitações e se conformar com alguns defeitos também.
Ou não.
É covardia tentar definir.
É preciso coragem.

Quem é o mais covarde?
O homem que evita uma briga e engole o desaforo, ou aquele que se mete em uma encrenca capaz de destruir a festa de formatura de mais de 30 pessoas?

Quanta coragem.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Um afilhado pra chamar de meu!

Como pode um convite transformar o dia?
Basta alguém lembrar de mim para a comemoração do seu aniversário e pronto, eu já me dou por satisfeita.
Formatura então nem se fala, dedico uma semana a escolher vestido, cabelo e maquiagem. Quase tudo em vão, porque em alguns minutos sou capaz de me descabelar e borrar o rímel tão bem aplicado com um dilúvio emocionante.
E madrinha de casamento? Nossa, é tão legal. Fazer parte da vida de um casal a ponto de ser colocada ali na frente da igreja, quase como um arranjo de flores.
Convite pra viajar, para um almoço no sábado, jantar na terça, noivado... Tudo isso me faz tão feliz.

Mas a grande verdade é que até ontem eu nem imaginava como um convite pode transformar a gente.
E agora preciso pensar em sapatinhos, mini all star e cobertores fleece.
Tudo com a maior cara de boba desse mundo.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Antes do sono chegar


Na hora de dormir a gente quer acordar
E faz um esforço imenso pra ouvir o dia do outro
Sem deixar os cílios se tocarem
Com a vermelhidão surgindo no canto dos olhos
Observamos em silêncio cada pedaço
Eu de você, você de mim
E depois de nos reconhecermos você enrosca a mão nos meus cabelos
E puxa meu rosto em direção ao seu
Pra gente se beijar
Só mais um pouco
Antes de apagar luz.

Mercadão





quarta-feira, 31 de março de 2010

Quando a gente esquece que se conhece

Deixa pra depois
Pra quando passar a má vontade
Depois de esquecermos a gritaria de ontem
Quando não houver mais zumbidos
Pra hora que a calma chegar.

Deixa quieto, assim é mais fácil
A gente acostumou a fechar as gavetas em silêncio
E não incomodar um ao outro com gestos rudes
Vamos seguir assim
Sem atirar pratos no chão que temos de dividir.

Deixa que a vida se encarrega de carregar a gente
Como sempre foi, lado a lado apesar do pesar
Faz assim, esquece que tive medo
E eu esqueço que você me assustou.

sexta-feira, 19 de março de 2010

O acordo

De todas as baboseiras capazes de me tirar do sério a que mais me irrita e deprime é pesadelo.
E eles aparecem por aqui, nessa cabeça cheia de cacos, com uma frequência infeliz.
Eu odeio, choro no começo da manhã, penso nos significados implícitos, e concluo que aquilo não presta pra nada a não ser me amolar.
Então agora, depois de uma noite infernal, venho aqui registrar minha profunda insatisfação com essa perseguição da minha mente.
Quero propor paz.
Vou me esforçar e tentar mandar pra longe minha mania de fantasiar, especialmente sobre coisas ruins, e espero que assim os vazios sejam preenchidos de coisas um pouco mais agradáveis.
Tudo por noites melhores.
E pelo direito de sonhar.

terça-feira, 16 de março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

Um sei lá o que de que.


Quando vem aquela insegurança avassaladora a gente logo põe as orelhas em pé esperando de alguém a certeza.
E aí qualquer palavra dita com um sorriso de canto de lábio serve pra acalmar a cabeça tonta de porquês.
A gente se veste de cores claras pra ver refletido o que esqueceu, e depois quando é noite se esconde embaixo da cama pra procurar quem se perdeu.
Fica difícil fechar os olhos com tantos estranhos pendurados nos cílios da gente, puxando pra cima, com força terrível, toda a vontade de adormecer.
E chega o dia e a gente ali, com os olhos fitando a barra do lençol, esperando que alguém estenda a mão pra nos arrastarmos pelo chão gelado rumo ao dia lá fora.
E inseguros escolhemos roupas pretas pra absorver todo o calor que nos falta, com a certeza de que o sol lá fora vai nos lembrar do verão que não vimos.
E já vai passar.

terça-feira, 9 de março de 2010

domingo, 7 de março de 2010

Recado

Meu bem,
Obrigada por ter voltado inteiro.
Já começo a ver as cores do céu de fim de tarde com total perfeição.
O som dos Beatles que tocou hoje em quanto a gente almoçava não apresenteou ruído algum.
Tudo volta a ser perfeito, e as nossas pernas continuam se encaixando enquanto despertamos do soninho de Domingo à tarde.
Fica aqui, preenchendo cada parte vazia.
Como sempre foi.

Agora está tudo bem.

Lê, tua pequena.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Carta II

Ro,
Quando escrevi a Carta I não achei que precisaria de uma II, mas aqui estou eu denovo, contra a minha vontade.
A coisa já virou uma tortura, esperar mais alguns dias vai ser como distorcer todos os sons lá fora. Um zumbido.
Mas eu aguento, só pra te ver com estes olhos cansados de tanto preto e branco.
Ontem não foi nada legal, dei aquela mancada que você já sabe e passei o resto do dia com frio na barriga e vontade de chorar.
O pior é que as vontades de chorar se misturavam bem entre as pálpebras dos meus olhos, e unidas corriam feito dilúvio fazendo arder minhas bochechas e manchar de cor de rosa meu nariz.
E nada de você.
E eu ali, esquecida dentro de mim mesma, dependente da sua ligação no fim do dia.
Quando a gente se fala eu até esboço um sorriso, mas na hora de desligar minha barriga gela outra vez. E vai congelando até a próxima chamada.
Sabe, você já deve voltar, é impossível seguir desta maneira.
Vou te espremer, e dessa vez não é força de expressão.

Sua pequena que fica cada vez menor,

quarta-feira, 3 de março de 2010

Carta I

Ro,
Já sinto mais falta do que posso.
Aqui tudo vai bem, a não ser as cores que ficaram um pouco mais desbotadas desde que você viajou. É estranho mas bastante compreensível.
Ontem foi legal, não tão legal é claro, mas me distraí um pouco com as meninas e por uns 8 minutos pensei em outra coisa que não você.
Depois de mais oito minutos eu quis ir logo pra casa para poder ouvir sua voz na paz do nosso quarto tão vazio. Oco.
Hoje de manhã, quando você ligou, eu ri tão alto na rua que fui observada com curiosidade pelo casal que passava ao meu lado. Não liguei muito e continuei falando alto para que você ouvisse bem o te amo no meio e no final.
Como disse antes, já sinto mais falta que posso, então pode voltar.
Se puder venha antes do mundo ficar cinza.

Sua pequena em pequenos pedaços,
Le

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sobre aqueles dias

Hoje fui lavada por uma enxurrada
Sentindo gota por gota
Lambendo o sal que colava na boca
Me despedi da amargura até o mês que vem.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Pronome

(menina)- Mãe, pra quem você deu tchau?
(mãe) - Pro Seu Raimundo filha.
(menino)- Onde ele vai mãe?
(mãe) - Ele quem filho?
(menino)- Ué, o nosso Raimundo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Pedaço

Logo você volta
E mesmo antes da partida
meu coração já está em pedaços
Porque tua falta me rouba o ar
E me dá vontade de dormir na sala
Que é para não lembrar do seu espaço na cama

Então não demora:
Para me encontrar inteira na volta
Você deve me deixar cola.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

D. Delícia

"Minha fia, aquilo num era home pra ela não, eu avisei desde o princípio sabe? Aquele sujeito chegava em casa tarde da noite e só de nóis olha na voz dele já dava pra perceber que ele tava de porre. Aí eu gritava lá da sala: - Num vai abri a porta pra esse bebum menina! Mas quem disse, ele inventava que só queria falar um negócio, que era pra ela abrir só um pouquinho e pronto! Ele calçava o pé entre a porta e ela num conseguia mais fechar ele pra fora. Aí ele entrava e drumia lá. Um dia menina, ele se gumitou todo, nossa mai virou uma nojeira aquilo, e eu disse pra ela que eu num limpava gumito de ninguém, falei pra ela num limpa também, mais quando vi ela tava lá, já tinha limpado tudo e ainda bejava ele na boca. Uma decepção menina. E eu num sei o que era aquilo, sei lá se eu acredito em bruxaria, mais acho que foi bruxaria, magia, essas coisas que essa menina fez pra amarra aquele home. Deve de ser isso. E agora eu falo pra ela: - você que compro esse marido agora tem que pagar. Sabe como é fia, a gente tem que ver quanto custa antes porque esse é o tipo de mercadoria que nunca mais dá pra devorvê!"

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carnaval?

No meu carnaval não teve batucada
Nem samba no pé
Não vesti fantasia
Sequer fui maquiada

No meu carnaval fizemos silêncio
Para pensar o que vem depois
Economizamos até as moedas
Planejamos cozinha, cachorro e um cofre em formato de porco

No meu carnaval o confeti foi de chocolate
E a cerveja foi bebida sentada
A música foi rock do bom
E as máscaras foram todas rejeitadas.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Mateus

Mateus está no auge de seus dois anos e meio
Usa tanto a criatividade que criou um vocabulário próprio enfeitado pelo seu S carioca.
Nunca fomos apresentados, desconfiado ele diz:
- Não quero conhecer.
E vira o rosto em outra direção negando a minha existência
Isso tudo porque ele acha que conhecer é mole.
Assim como a bala da qual ele não gosta.
Gato também é mole.
Ele só se dá bem com cachorros.
O cachorro de Mateus chama Puto.
E não é mole não, ele é bem legal.

Mole não tem nada a ver com duro.
Nem com mole.
Mole de Mateus não é nada fácil e acompanha uma careta rápida.

É menino,
Não é mole não.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Meu frio na barriga de sempre

É um prazer conhecê-la
Embora tanta mudança nesse seu estado de espírito às vezes me confunda um pouco
Sua cara amarrada do dia
Seu sorrido largo do outro
Aquela certeza incerta que se desfaz quando a gente dobra a esquina

A gente se vê no espelho
E tudo que é seu continua no mesmo lugar
Mas às vezes os olhos piscam rápidos demais
E em outras parecem nunca descansar

Depois reconheço
Bem no meio do estômago
Aquele frio tão particular
Sempre do mesmo jeito, no mesmo lugar

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Me dá!



Por favor essa jaqueta?
(E um pouco de frio, claro, porque mais um tanto de calor e essa cidade derrete feito gelo na chapa)
aqui

Conta comigo

Na minha conta sei que posso contar com:

A mão grande e estendida da minha mãe, que aperto com força pra guardar a textura de seus dedos no vão dos meus. Completa.
O enroscar de pés pela manhã e a mordida leve quando chega a noite. Por dentro da minha pele, na minha pulsação.
O batucar incansável de meu irmão que me desperta pra tanto.
Levanto e me agarro nele pra dançar na sala de estar.
A música aconchegante cantada pelo meu pai e presa em meus ouvidos, ouço muda enquanto a água do chuveiro bate forte nos meus ombros tensos.
Relaxo.
Uma meia dúzia e meia de amigos. Esparramados e guardados com laço de fita nos pedaços de minha curta memória.
Uma casa nova pra morar.
Um carro pequeno e prata pra levar onde queremos chegar.
3 grandes verdades: A minha, a tua e a nossa.
Um caderno cheio de receitas pra aliviar a fome de toda a ansiedade.
Protetor solar.
2 livros para terminar.
Meu tênis de caminhada.
Toda sua compreensão.
E a vontade de mudar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Para o marido que tenho




Agora é isso, a gente virou uma casa.
Um lugar só para misturar desejos, cheiros, falhas, sapatos e dedos.
Uma sala transparente que combina com a gente
Muito claro porque pelo vidro frágil a sinceridade é possível.
E assim serão nossos dias, fechados com quarto e cozinha,
Vinho frisante e suas bolhas massageadoras de céu
Beijo na boca.

Agora nada mais importa além da porta estragada, das cores que pintarão nas paredes, do manjericão que vai viver lá fora, da cortina que promete ficar aberta pra tudo de novo que quiser entrar.
A gente tem espaço.
Para dançar Elvis de madrugada, para receber, para deitar os amigos, para aquietar nosso corpo, para lavar o espírito.

A gente virou quintal e a própria música ambiente.
Aumentamos o volume, aceleramos o ritmo e somos família.
Daquelas que crescem junto com o calor no meio do peito,
Como o bolo de quinta à tarde que sai do forno exalando conforto
Para quem quiser comê-lo.

É isso meu bem,
agora somos Lar.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Pão de Mel

Não, não se trata de receita.
Mas a verdade é que eu faço o melhor pão de mel da vida, e dia desses tive a brilhante idéia de fazer o doce para vender.
Tudo isso porque tô na rua da amargura, não sei onde procurar emprego e ninguém me oferece dinheiro pelos textos que escrevo. Uma lástima.
Então me convenci de algo que já sabia há muito tempo: eu amo cozinhar, especialmente os doces, e se isso fosse meu ganha pão eu seria absurdamente feliz.
O primeiro problema a ser enfrentado era o fato de que não tenho grana para montar um negócio do tipo confeitaria, bistrô, padaria, pizzaria, ou qualquer outro dos tantos mil que passam pela minha cabeça, então, para começar minha jornada em busca da felicidade e do salário no fim do mês (como se os dois não fossem quase a mesma coisa, enfim) decidi vender meus pães de mel de porta em porta pelo centro da cidade.
Arrumei um baú bem lindo, decorei com um tecido feliz e completei com os pães que fiz na noite anterior.
Nas três primeiras lojas que fui, vendi um pão de mel.
E então comecei a chorar. Compulsivamente.
Não de alegria, tampouco tristeza.
Chorei de raiva, por sentir denovo aquela coisa estranha que me devora quando faço algo novo. Aquela insegurança absurda, que domina meus pensamentos e me arrasta lá pra longe, de onde não posso ver razão, nem mesmo enxergar eu mesma. Eu e todos meus sonhos doces transformados em pão de mel, escondidos no fundo da cesta.
Conforme secavam as lágrimas eu voltava à real.
É difícil mesmo, disse minha mãe desesperada, mas não é impossível.
E juntas vendemos mais alguns.
Mas agora, horas depois, eu continuo apavorada.
E louca para comer os pães de mel restantes com um xícara fumegante de café.
Porque eu faço sim o melhor pão de mel da vida.