domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sobre aqueles dias

Hoje fui lavada por uma enxurrada
Sentindo gota por gota
Lambendo o sal que colava na boca
Me despedi da amargura até o mês que vem.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Pronome

(menina)- Mãe, pra quem você deu tchau?
(mãe) - Pro Seu Raimundo filha.
(menino)- Onde ele vai mãe?
(mãe) - Ele quem filho?
(menino)- Ué, o nosso Raimundo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Pedaço

Logo você volta
E mesmo antes da partida
meu coração já está em pedaços
Porque tua falta me rouba o ar
E me dá vontade de dormir na sala
Que é para não lembrar do seu espaço na cama

Então não demora:
Para me encontrar inteira na volta
Você deve me deixar cola.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

D. Delícia

"Minha fia, aquilo num era home pra ela não, eu avisei desde o princípio sabe? Aquele sujeito chegava em casa tarde da noite e só de nóis olha na voz dele já dava pra perceber que ele tava de porre. Aí eu gritava lá da sala: - Num vai abri a porta pra esse bebum menina! Mas quem disse, ele inventava que só queria falar um negócio, que era pra ela abrir só um pouquinho e pronto! Ele calçava o pé entre a porta e ela num conseguia mais fechar ele pra fora. Aí ele entrava e drumia lá. Um dia menina, ele se gumitou todo, nossa mai virou uma nojeira aquilo, e eu disse pra ela que eu num limpava gumito de ninguém, falei pra ela num limpa também, mais quando vi ela tava lá, já tinha limpado tudo e ainda bejava ele na boca. Uma decepção menina. E eu num sei o que era aquilo, sei lá se eu acredito em bruxaria, mais acho que foi bruxaria, magia, essas coisas que essa menina fez pra amarra aquele home. Deve de ser isso. E agora eu falo pra ela: - você que compro esse marido agora tem que pagar. Sabe como é fia, a gente tem que ver quanto custa antes porque esse é o tipo de mercadoria que nunca mais dá pra devorvê!"

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carnaval?

No meu carnaval não teve batucada
Nem samba no pé
Não vesti fantasia
Sequer fui maquiada

No meu carnaval fizemos silêncio
Para pensar o que vem depois
Economizamos até as moedas
Planejamos cozinha, cachorro e um cofre em formato de porco

No meu carnaval o confeti foi de chocolate
E a cerveja foi bebida sentada
A música foi rock do bom
E as máscaras foram todas rejeitadas.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Mateus

Mateus está no auge de seus dois anos e meio
Usa tanto a criatividade que criou um vocabulário próprio enfeitado pelo seu S carioca.
Nunca fomos apresentados, desconfiado ele diz:
- Não quero conhecer.
E vira o rosto em outra direção negando a minha existência
Isso tudo porque ele acha que conhecer é mole.
Assim como a bala da qual ele não gosta.
Gato também é mole.
Ele só se dá bem com cachorros.
O cachorro de Mateus chama Puto.
E não é mole não, ele é bem legal.

Mole não tem nada a ver com duro.
Nem com mole.
Mole de Mateus não é nada fácil e acompanha uma careta rápida.

É menino,
Não é mole não.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Meu frio na barriga de sempre

É um prazer conhecê-la
Embora tanta mudança nesse seu estado de espírito às vezes me confunda um pouco
Sua cara amarrada do dia
Seu sorrido largo do outro
Aquela certeza incerta que se desfaz quando a gente dobra a esquina

A gente se vê no espelho
E tudo que é seu continua no mesmo lugar
Mas às vezes os olhos piscam rápidos demais
E em outras parecem nunca descansar

Depois reconheço
Bem no meio do estômago
Aquele frio tão particular
Sempre do mesmo jeito, no mesmo lugar

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Me dá!



Por favor essa jaqueta?
(E um pouco de frio, claro, porque mais um tanto de calor e essa cidade derrete feito gelo na chapa)
aqui

Conta comigo

Na minha conta sei que posso contar com:

A mão grande e estendida da minha mãe, que aperto com força pra guardar a textura de seus dedos no vão dos meus. Completa.
O enroscar de pés pela manhã e a mordida leve quando chega a noite. Por dentro da minha pele, na minha pulsação.
O batucar incansável de meu irmão que me desperta pra tanto.
Levanto e me agarro nele pra dançar na sala de estar.
A música aconchegante cantada pelo meu pai e presa em meus ouvidos, ouço muda enquanto a água do chuveiro bate forte nos meus ombros tensos.
Relaxo.
Uma meia dúzia e meia de amigos. Esparramados e guardados com laço de fita nos pedaços de minha curta memória.
Uma casa nova pra morar.
Um carro pequeno e prata pra levar onde queremos chegar.
3 grandes verdades: A minha, a tua e a nossa.
Um caderno cheio de receitas pra aliviar a fome de toda a ansiedade.
Protetor solar.
2 livros para terminar.
Meu tênis de caminhada.
Toda sua compreensão.
E a vontade de mudar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Para o marido que tenho




Agora é isso, a gente virou uma casa.
Um lugar só para misturar desejos, cheiros, falhas, sapatos e dedos.
Uma sala transparente que combina com a gente
Muito claro porque pelo vidro frágil a sinceridade é possível.
E assim serão nossos dias, fechados com quarto e cozinha,
Vinho frisante e suas bolhas massageadoras de céu
Beijo na boca.

Agora nada mais importa além da porta estragada, das cores que pintarão nas paredes, do manjericão que vai viver lá fora, da cortina que promete ficar aberta pra tudo de novo que quiser entrar.
A gente tem espaço.
Para dançar Elvis de madrugada, para receber, para deitar os amigos, para aquietar nosso corpo, para lavar o espírito.

A gente virou quintal e a própria música ambiente.
Aumentamos o volume, aceleramos o ritmo e somos família.
Daquelas que crescem junto com o calor no meio do peito,
Como o bolo de quinta à tarde que sai do forno exalando conforto
Para quem quiser comê-lo.

É isso meu bem,
agora somos Lar.