quinta-feira, 29 de julho de 2010

Minha unha vermelha lascada

Ter um trabalho me faz melhor
Porque penso menos em acidentes de avião
Não sonho mais com bebês que tem rosto de cachorro
E esqueço de limpar o piso branco a cada minuto.

E me faz pior,
já que tenho enxaquecas
E desde a véspera do meu casamento no civil
Eu não tinha enxaquecas.

Também me rouba o tempo de passar acetona nas unhas
E de cozinhar as receitas que se acumulam no meu imaginário.
Trabalhar me faz deixar o edredom embolado em cima da cama
E a pilha de roupas crescendo na lavanderia.

Em compensação me permite comprar a vista as flores e ervas que quero plantar no jardim,
No Sábado.
E tive que aprender melhor matemática
Pra dividir em muitos pedaços o fim de semana
E ajeitar a bagunça, pendurar os quadros, namorar meu marido, assar pão, passar creme nos cabelos, ver um filme, ver amigas, ver minha mãe, ir no casamento, almoçar com o pai, tomar cerveja, vinho, água, lavar a calçada, pisar na grama e dormir.

Meu trabalho me fez descobrir que gosto de dormir.
E isso é novo, porque sempre fui a primeira a acordar, e acordava os outros, e era odiada.
Agora só penso em travesseiros e na forma como minha cabeça agitada se ajeita na espuma macia.

Meu trabalho me deu uma pele seca, porque não quero mais passar hidratante, e deixo minha canela parecendo as terras rachadas de algum sertão do Brasil.
Mas se no fim de semana, entre ler uma revista e fazer um capuccino, se depois da soneca no sofá me restar energia, eu prometo que encho a palma da mão de meleca e espalho com paciência por todo meu corpo cansado.

No mais, vai tudo muito bem.
E minha auto-baixa-estima já sente seu mundo subir.
Logo depois do primeiro salário,
Vamos rir juntas desses longos 29 dias
Em algum boteco de esquina.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Barriga

Na minha lista de desculpas esfarrapadas, que uso pra justificar a mim mesma a série de comportamentos obsessivos que me perseguem,
Ou que eu persigo,
Aparece em primeiro lugar
Absoluta
A desculpa preferida
A mais bem amarrada
A mais usada
A mais absurda
E controversa.

A "desculpa aí, mas não consigo fazer dieta"
Porque pra mim regime e tristeza são semelhantes
Irmãos
Rute e Raquel
E eu simplesmente me nego a passar longe de um brigadeiro
E do feijão com arroz e molho de pimenta
Da xícara fumegante de capuccino
Do pastel da feira
Vinho tinto, queijo e pão italiano
Sorvete
Empada de palmito
Bala de caramelo
Coca Cola de garrafa de vidro - Normal, por favor!

E me deprime a gordurinha aqui e ali
Mas não sei o quanto
Menos que a falta de carboidratos, fato.
E eu me olho e não enxergo
E acho que estou bem o suficiente pra repetir o almoço.
Detesto recusar comida porque estou de regime,
E me conformo vendo Nigella lambendo os dedos
Linda e comilona.

Amo tanto a comida que me permito não entrar no jeans
Porque se ele não me quer
Tenho um chocolate que, apesar de amargo,
Me ama, mesmo em meus vestidos larguinhos
E me deixa satisfeita
Derretendo lentamente
Bem no meio da minha língua.




segunda-feira, 19 de julho de 2010

A fila de formigas

Elas entraram todas, tenho certeza
Aquelas pequenas formigas que seguiam lentamente, uma atrás da outra
Rumo a parte superior do armário de cozinha vermelho
Onde não se guarda comida e, portanto, não me pergunte
Eu não sei o motivo da procissão,
Então, como eu dizia
Aquelas formigas transparentes
Cor de caramelo transparente
Fizeram a volta
E decidiram morar na minha barriga
E dividem o lanche ruim que comi no almoço
Me perturbam
Me coçam
Andam de um lado pro outro
Chegam a escalar minha garganta
E voltam atrás, fazendo cócegas insuportáveis
Que me fazem lembrar
Como dói a saudade de você.

É uma picada,
Que fica coçando
Até que de repente
Você rompe a porta
E eu devolvo as formigas
Uma a uma
Pra parede da cozinha
Rumo ao armário vermelho
De guardar pratos vazios.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Amor pelas batatas

Hoje, durante a corriqueira passada de olhos pelo G1 me deparei com a mais linda das notícias (ou seria batata?)


"O agricultor alemão Andreas Klein mostrou nesta quinta-feira (15) uma batata em forma de coração. O tubérculo foi colhido em sua propriedade em Wiesbaden, na Alemanha. (Foto: Fredrik von Erichsen/AFP)"

A falta sua.

Só de saber que logo você viaja
Me embrulha o estômago
Me aperta a vontade de encostar na pele das suas costelas
De enfiar os dedos entre seus cabelos.
Me parece sair sem cooredenação os "te amos"
No volume errado
Fico criança
Me sinto sozinha
Agachada no chão do banheiro
Esperando você de volta
Mesmo antes da sua saída.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A bula

Eu preciso te falar
De toda a raiva de hoje
Do quanto estou chateada
De como doi meu estomago
Da minha vontade de vomitar
Das bobagens que fiquei pensando depois que voce saiu de casa
Dos medos que tenho
E daqueles que sao despertados quando a gente grita.

Tenho que dizer que nao entendo
Que acho estranho ainda assim querer
Que nao me arrependo
Que tenho razao
Que nao quero que isso aconteca denovo
Que sinto muito por nao me sentir culpada.

Preciso explicar que mesmo quando nao digo, te amo
Preciso que entenda
Que nao me suporte
Mas espere a raiva passar.
Preciso que me de tempo pra voltar ao normal
Que preste atencao
Que volte atras
Mas nao esqueca.

Saiba da verdade
Do meu querer bem
Das angustias que tenho
Da minha paixao que nao passou
Do meu ciume
Interprete meus gestos
Leia meus olhos
Me olhe
Aprenda

Nao me machuque
Nao me leve tao a serio
Me deixe exagerar
Nao me peca paciencia
Releve minha ironia
Decore meu ciclo menstrual
E me traga uma flor do mato
Pra remendar o estrago
De minutos atras.

sábado, 3 de julho de 2010

Nossas diferenças

Eu gosto de tudo que voce gosta,
Quase tudo.
Nao fosse o rap, a alface e os programas policiais,
Nao fosse isso.
Mas eu gosto de como suas coisas lhe caem bem.

Gosto que voce nao use camiseta de basquete furadinha so porque gosta de rap.
Gosto que nao faca barulhos estranhos com a boca enquanto escuta essas suas musicas.
Gosto muito que nao me faca ouvi-las.

Seu gosto por alface entao, esse, ao meu ver, e fantastico.
Seu gosto por alface me faz sentir obrigacao de comer salada antes do almoco, e isso nao pode ser ruim, exceto pelo sabor.
Gostar de alface te faz saudavel e gostoso.
Do jeito que eu gosto.

Os programas policiais eu nao consigo entender.
Mas gosto de discuti-los a noite com voce, e tirar sua atencao da TV enquanto explico pela milesima vez que nao precisamos acinzentar ainda mais essa vida que desbota com tanta facilidade.
Vamos ver comedia.
E voce muda de canal.
E eu nao preciso gostar do seu gosto.
Mas deixo que voce veja tiros, perseguicoes e documentarios sobre o trafico enquanto durmo no seu colo, encolhida no nosso sofa.
Fecho os olhos e gosto.

Voce deve gostar de quase tudo que gosto.
Mas bem quase mesmo.
Porque eu sei que e dificil para um homem assistir Sex and the city no cinema, no dia da estreia, em uma sala lotada de mulheres.
Mas voce vai.
Porque deve gostar da minha companhia.

O meu rock and roll pra voce tambem nao deve ser muito facil.
Nao a musica em si, porque dela eu sei que voce gosta.
Mas deve ser meio estranho ver sua mulher na frente de um palco, descabelada, com copo de bebida na mao pedindo musicas que obviamente a banda nao quer tocar.
Reconheco que passo dos limites quando se trata Beatles, Led, Doors, Ramones, Raul e Velhas Virgens.
Mas voce entende.
E me tira dali antes que eu de vexame.

Meu gosto por comidas tambem causa divergencias.
Porque sei quevoce adora que eu faça.
E gosta de me ajudar.
Mas quando chega a hora de comer sei que voce se preocupa,
E nao gosta muito da quantidade que aguento.
Porque me lembro bem daquele dia,
Na casa da minha mae
Quando eu gostava muito de comer ovos de chocolate
E gostava mais ainda de ter um ovo metade preto, metade branco, tamanho 20, so pra mim.
E comi um pedaco preto, e um branco, e mais um preto, e mais um branco, e comecei a juntar o preto com o branco, e fui comendo ate ver o fim.
Voce nao gostou.
E me pediu pra nao ser assim.
E eu nao gostei.
E tive vontade de comer mais uns 3 ou 4 bombons.
Mas me contive.
Por gostar de voce.
E saber que voce gosta de mim.

Tem coisas que a gente gosta igual.
E aquelas que voce me ensinou a gostar
E outras que eu quis que voce gostasse.

Mas a gente gosta mesmo um do outro.
E de tudo que somos.
Sem querer saber porque.

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Ah, gostaria de avisar que a resposta para o post anterior e sim.
Sim, se desejarmos de verdade o que a gente quer, acontece.
Do dia pra noite.
Sim.