terça-feira, 30 de junho de 2009

Quando você voltar

Terei comido várias barras de chocolate sem engordar, porque sem você nada além delas me desce e a fome não vem porque já sabe, coitada, que não pode ser saciada.
Terei feito o trajeto casa-trabalho 10 vezes e uma mini-viagem para treinamento sem reclamar nada porque já que você não pode me ouvir eu esqueço de ser ranzinza.
Terei tomado o café que cabe à nós doi porque não sei mais preparar apenas uma xícara e continuo com dó de jogar fora a bebida.
Quando você voltar vou te contar que te vi num sonho, e no próprio sonho você era só um sonho e eu não cansava de repetir o quanto tudo era real, e sentia teu cheiro, teus pés em minhas pernas e tua mão atrás da minha cabeça.
E vou te encher de beijos, daqueles que deixam a boca vermelha, e não vou te deixar passar da cozinha porque não terei paciencia pra esperar o próximo cômodo.
Quando você chegar vou estar no mesmo lugar, esperando tua voz e teu olhar de perto, e quando a gente estiver enroscado vou suplicar-lhe que não me deixe nem mais uma vez porque nada daquilo que eu fazia sozinha faz sentido agora.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A saudade dela

É uma coisa que ela sente assim, começa aos poucos, do tamanho de um grão de arroz, inofensível, e ela tem a sensação de que pode conter aquilo quando bem entender, mas gosta um pouco de sentir e de tanto gostar vai deixando o arroz virar azeitona, e incomoda, mas ao mesmo tempo transforma tudo que era pouco em muito e ela lembra do amor, e num ritmo mais acelerado que antes a azeitona vida pêssego, e machuca, como se aquele tamanho de coisa não pudesse estar ali, não há espaço, ela começa a sofrer e antes que tente parar as lágrimas já rolaram quentes pelo rosto frio, e começa a ficar tudo vermelho, o nariz, os olhos, as bochechas, e ela abre bem grande a boca como se tentasse tirar de lá de dentro o pêssego que já virou papaya, e se encosta na parede, e o grito não sai e torce o cabelo entre os dedos, anda de uma lado pro outro, pro outro e mais outro, e tudo se movimenta na sua cabeça vazia tão cheia de porquês, tão longe das respostas, e parece que ela não vai aguentar, chega perto do telefone mas não gosta de ligar quando está assim, assim não dá, é perigoso contagiar alguém e não caberia mais uma dor daquelas em planeta nenhum, nem no universo, e quando percebe sufocou e a melancia com casca e tudo fica ali parada, entre o peito e garganta inflamada, e ela tenta chorar mais baixo pra não incomodar os vizinhos, mas quando faz força pra ficar quieta prende na goela um desespero que sem mais nem menos explode em um urro. Silêncio. Vai até o espelho e vê o rosto manchado, esfrega a água gelada na cara pra ver se limpa os vestígios da sua saudade, ela pensa que está febril, mas passa, senta em frente ao computador pra contar pro nada como foi aquilo tudo, antes que o arroz incomode mais uma vez.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Noite e dia

A gente se vê à noite
Naquela hora em que é mais difícil aceitar, bem quando os nervos saltam fora
Depois das horas mais pesadas do dia
Pra lá dos protocolos, dos padrões de atendimento, além das pessoas más e mal-humoradas, do gerente, do supervisor.
A gente se encontra depois das contas, das dicussões, do mal resolvido.
Longe das câmeras de segurança, das ordens, do horário que é sempre o memso.

Depois de tudo que consome o espontâneo, das atitudes mecânicas, das frases feitas.
Quando já se deixou pra trás o uniforme e a maquiagem,
Do lado de fora.
Nosso dentro.

A gente se vê à noite
E cheio de ser dos outros voltamos a ser da gente.
Nós de nós dois, bem atados e estranhamente soltos,
Estamos livres e decidimos ficar acordados
Fazendo nossas caras e encostando nossas bocas
Falando sem pausas, sobre qualquer coisa
Bebendo vinho, assistindo documentários, comentando os fatos e comendo a ceia.

Até quando não dá mais e eu começo a fechar de leve meus olhos pesados
Aí você enrosca sua perna na minha e me chama pra perto de tudo onde eu gosto de estar.
E é ali que ficamos.
Presos um ao outro, distante das armadilhas lá fora
Até a hora de acordar.