domingo, 12 de outubro de 2008

Tô lá fora


Na falta de tempo, foi viver lá fora.

Lá fora corre o tempo.
E a gente corre para vivê-lo no presente.

domingo, 5 de outubro de 2008

Abre os olhos pra ver



É tanto tombo que a gente leva, tantas vezes que levantamos, tanto curativo, que quando vemos a ferida cicatrizada já nos alarmamos esperando por outra rasteira.
Meu machucado, aberto há anos, foi feito por mim mesma, sem dó.
Cavei tanto, derramei sangue, abri a carne, vi o osso.
Tudo por nada.
Só porque, em um dos tombos da vida, resolvi me manter no buraco, afinal, de lá de baixo fica mais difícil cair outra vez.
Estava certa quanto ao tombo, mas errada quando pensei que lá no fundo, onde tudo é escuro, úmido e vazio, conseguiria acabar de vez com a dor que me causei.
Não é possível curar-se no breu. Para fechar a ferida é preciso sol, ar fresco e água salgada.
E tudo isso junto, logo no início, só faz a dor piorar.
O sol forte e brilhante vai cegando os olhos, o ar fesco parece tão gelado que fere a pele e a água salgada faz arder, mesmo quando o corte é pequeno.
Mas chega um dia que o fundo do poço cansa, e a gente se arma de óculos escuro para encarar a vida lá fora.
Aos poucos vamos acostumando com a claridade, com o vento que vai ficando fresco e com o sal que se torna imperceptível em meio a tanta água.
E aí chega o dia no qual resolvemos pegar as pedras em nossas mãos e arremessá-las para bem longe do nosso caminho.
Nesse dia a estrada fica clara, mesmo na noite, mesmo sem lua.

Minha estrada clareou dia desses. E eu já não podia recusar a viagem.
Não sei nem pra que lado joguei as pedrinhas que catei no caminho. Não quero mais saber.
Mas sei exatamente pra onde vou.
E vou. Sem óculos.