quinta-feira, 16 de abril de 2009

Papo de elevador

Voltava do mercado com as mãos cheias de sacolas quando encontrou o vizinho na porta do prédio.
O homem gordo de bigode farto deve ter uns quase 70, usa all star cano longo surrado, bermuda cáqui, camiseta azul e nenhum relógio.
Sem dizer palavra alguma ele abre a porta e a segura até que a menina carregada de morango e suspiro fique a salvo do lado de dentro.

- Obrigada.

Ele acena com a cabeça, boca fechada, nada de dentes.
Ela passa toda a compra pra uma só mão e aperta o botão, enquanto o vizinho fecha a porta da frente ela mantém aberto o elevador esperando ele entrar.

- Obrigado.

Ela acena com a cabeça e fica olhando para o chão. Elevador é mesmo um negócio estranho, constrange a gente sem motivo algum.

- Uma mão lava a outra.

Ele diz isso olhando metade para a menina, outra parte para o chão.

- É verdade.

Ela abre um sorriso tímido e fixa os olhos no all star jeans desbotado e mal amarrado.

- Educação.

Ele deixa a palavra solta no quadrado do elevador e continua:

- Visse o que aconteceu lá no Rio? Se as pessoas fossem educadas nada daquilo aconteceria. Você menina não se contenta com pouco, podia ser só bonita, mas não. Além disso é muito educada.

Ela ri um riso sincero, ele retribui mostando os dentes entre o bigode.
O elevador pára no 6, é o lugar dele.

- Tenha um bom dia menina.
- Você também.

A porta fecha e ela sobe mais dois andares.

1 comentário:

amanda. disse...

que bonito.

eu só uso os elevadores aqui duas vezes por dia. uma às 8 da manhã, quando quem ja tinha que sair pra trabalhar já saiu. e outro às 11:30 da noite, quando quem já tinha que chegar em casa já chegou.

geralmente fico sozinha la dentro.

quando encontro alguém, o diálogo dura alguns segundos somente, não ha tempo pra pensar.

moro no 3º andar.