segunda-feira, 15 de junho de 2009

A saudade dela

É uma coisa que ela sente assim, começa aos poucos, do tamanho de um grão de arroz, inofensível, e ela tem a sensação de que pode conter aquilo quando bem entender, mas gosta um pouco de sentir e de tanto gostar vai deixando o arroz virar azeitona, e incomoda, mas ao mesmo tempo transforma tudo que era pouco em muito e ela lembra do amor, e num ritmo mais acelerado que antes a azeitona vida pêssego, e machuca, como se aquele tamanho de coisa não pudesse estar ali, não há espaço, ela começa a sofrer e antes que tente parar as lágrimas já rolaram quentes pelo rosto frio, e começa a ficar tudo vermelho, o nariz, os olhos, as bochechas, e ela abre bem grande a boca como se tentasse tirar de lá de dentro o pêssego que já virou papaya, e se encosta na parede, e o grito não sai e torce o cabelo entre os dedos, anda de uma lado pro outro, pro outro e mais outro, e tudo se movimenta na sua cabeça vazia tão cheia de porquês, tão longe das respostas, e parece que ela não vai aguentar, chega perto do telefone mas não gosta de ligar quando está assim, assim não dá, é perigoso contagiar alguém e não caberia mais uma dor daquelas em planeta nenhum, nem no universo, e quando percebe sufocou e a melancia com casca e tudo fica ali parada, entre o peito e garganta inflamada, e ela tenta chorar mais baixo pra não incomodar os vizinhos, mas quando faz força pra ficar quieta prende na goela um desespero que sem mais nem menos explode em um urro. Silêncio. Vai até o espelho e vê o rosto manchado, esfrega a água gelada na cara pra ver se limpa os vestígios da sua saudade, ela pensa que está febril, mas passa, senta em frente ao computador pra contar pro nada como foi aquilo tudo, antes que o arroz incomode mais uma vez.

5 comentários:

H L disse...

perfeito, simplesmente e unicamente perfeito.
quase choro, a até me arrepiei!

Voltarei com certeza flor!!
bjão


e que a saudade te der um tempo, um desconto talvez!
aliás, a todas nós!

Lydia disse...

Puxa vida... Saudade tem dessas coisas, dá um nó no peito e dói e como dói.
Tempão sem passar aqui e quando volto encontro um texto tão fascinante.
Beijão!!!

.Ná. disse...

Você conseguiu fazer da sua dor, uma feira. Da minha dor, só consigo pensar num cancêr. Deve ser culpa das longas temporadas de Grey's Anatomy... quando aquilo começa a sufocar... e o batimento cardíaco começa a cair... e o pulso... o pulso... cadê o pulso, meu Deus?! E então... a lágrima fria sobre a face quente, febril... e mais uma vez a gente deixa o amor de lado e tenta tocar a vida.
Beijos.

H L disse...

Oii minah querida, passando aqui pra te dizer que tem um selo pra você no meu blog..não sei se já recebeu, ou se não gosta dessas coisas...
Enfim, te inidiquei e tá la...
bjããoo!!

Gabriela Castro disse...

Minhas saudades não têm cura. Tento manter meus grãos de arroz e sufocá-los quando tentam ser pêssegos.
O texto sobre quanto vale um coração é perfeito!
Adorei aqui!
beijão