segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A gravidade de uma gravidez

Renata está grávida.
É grave, pense bem.
Ela agora pensa mais nas roupas do bebê.
Pensa se ele ou ela.
Como fazer pra colocar nas roupas que gosta a barriga que nunca gostou.
Agora ama.
Passa as mãos, de leve, com força, rápido, lenta, freneticamente.
De um lado para o outro,
Por todo o ventre, que ainda é quase vazio.
Não fosse a sensação de tamanho preenchimento,
Não fosse a vontade de tomate e vinagre. Muito vinagre.
Não fosse a cara de babão do pai.
Não fosse todos esses sintomas de felicidade imensa,
Renata ainda seria a mesma.
Mas tudo lá dentro mudou,
Eu mesma vi, pelo lado de fora.
Nos olhos de açaí
Na voz macia
No sono.
Eu senti Renata grávida.
E aquilo tudo me fez melhor.
Meu Domingo melhor.
Meu sono melhor.
Minha vida ainda melhor.
Imagina então a vida dela.
Pode imaginar,
Ela quer passar os dias no sofá
Olhando o próprio umbigo
Aquele que era tão dela
E que agora compartilha sem medo
Com o serzinho indefeso
Que vive por ali
Bem no meio dela
No centro de toda a sua vida.
Renata é grávida.
Do jeito que só Renata seria.

1 comentário:

Gabriela Guimarães Cavalcanti disse...

Agradabilíssimo o texto. Teletransportou para uma moça nos primeiros suspiros umbilicais.
Sua descrição dócil e sutil é indubitavelmente uma boa fórmula de adubo. Para imaginação fértil.