sexta-feira, 25 de julho de 2008

801

Atrás da porta número 801.
Lá ela se escondia.
Ficava longe do mundo, mais longe do que gostaria, tão longe que mal podia aguentar.
Recolhia os pedaços do que foi, os rabiscos que indicavam o que queria ser, e às mágoas por não te feito isto e aquilo.
Guardava na caixa de guardar.
Segurava firme com as duas mãos, mexia tudo, de um lado para o outro, de cima pra baixo, zigzagueando o invisível no espaço.

Ela abraçava os joelhos e enfiava a cabeça no vazio entre o peito a dobra das pernas,
Ficava ali segundos que se pareceriam com horas.
Ou horas que virariam um segundo.
Dependia apenas da fase da lua, da posição dos planetas, ou do dia do mês.
Seu humor estação faz inverno no verão.
Quando foi pra longe deixou pra trás uma coisa estranha,
Um preocupar-se com nada.
E agora vive as horas pensando em tudo.

Quando nasceu a mãe levou os números para o astrólogo.
Seria comunicadora. Talvez jornalismo, letras ou publicidade.
Quem sabe atriz.
Ela seguiu à risca as recomendações da Cabala.
Só não tentou o teatro. Faz de conta não paga conta, ela ouvia.
Interpreta a indecisão enquanto se enrola na cortina.
Pula de um curso pro outro.
Muda o curso da vida quando enjoa de ser estática.
Não gosta do que fez. E ainda não sabe o que vai fazer.

Atrás da porta 801 ela pensa que o homem errou.
Errou feio.
Tem vergonha de se expressar.
Não pode comunicar nada com o rosto tão vermelho assim.
E então escreve na agenda do ano passado linhas e frases desconexas.
Conexão com ela, que ao vivo não vai falar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu conto os dias, conto as horas pra te ver!
Eeeeeeeeeeeeeeeee!
=)

Te amoooO!