domingo, 16 de agosto de 2009

No meio tempo

Falta tão pouco tempo
E enquanto falta ela organiza o que resta
Se enche de tarefas
E, surpresa, é capaz de cumpri-las
Agora tem prazos, cumpre horários, negocia e faz hora extra
Vai ver que é assim, ela pensa enquanto trabalha
Vai ver que no mundo das pessoas grandes pra ser grande é preciso encurtar o tempo
Cresce mais quem estica melhor
Quem consegue arrumar espaço pra mais um não sei o quê no meio de tanto vai saber.

Ela luta todo dia contra a preguiça
E se assusta
Porque antes, quando não era preciso
Ela era a primeira a despertar, levantava inteira, elétrica às 8 da manhã
Irritava
Atrapalhava o sono de todos os outros
Só pensava em acordar, estar em pé, respirar, sentir, amar, comer e viver
Entendia tudo que seu tio Beto ensinou sobre levantar cedo nas férias
Afinal só é possível aproveitar quando estamos de olhos abertos.
Mas agora é tudo diferente
Ela quer cama e chá quente
Vive procurando por silêncio
Implorando por mais cinco minutos de sonho.

Mas ela vence, quase todos os dias
E quando perde se convence de que assim era melhor.
Não esqueceu ainda a mania de ver o lado bom das coisas
E torce, de verdade, pra que isso não se perca
Pra que continue firme na decisão de ser otimista
Que continue vendo cordeiro no meio dos lobos
Porque se assim não é fácil imagine então como seria se ela colocasse mais vezes os óculos
Ela sabe que não iria suportar, e numa tentativa burra de esconder tudo o que já sabe deixa as lentes no sofá
Pra ver nítido só a novela

Falta tempo, pouco tempo
Mas ela ainda é ansiosa
E anseia que isso um dia passe.

2 comentários:

disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Sempre te vejo, toda manhã, tarde e noite, convivo com números e letras todos os dias. O seu vc preenche as letras do meu viver. Parabéns pelos lindos textos. Te amo Rogerio