quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sem riso.

Logo que a dentista terminou de colar os quadradinhos metálicos os olhos da menina encheram de lágrima.
De ódio.
Era a segunda vez que se submetia ao tratamento.
Mas era incomparável.
Porque na primeira, sabe lá quantos anos atrás, usar um aparelho era questão de encaixe.
Não da mordida, encaixe no grupo.
Usar aparelho era pertencer a uma tribo, ter assunto, discutir feridas, mordidas cruzadas, dentes tortos, cor das borrachinhas, dor, enfim, era legal.
Verdadeiramente legal.
Mas nesta segunda vez a menina não teve nenhuma boa lembrança.
Pensou que podia ficar como estava.
Mas lembrou que ultimamente mordia muito mais a própria língua do que a carne do boi.
Tratar era preciso.
Se achou feia. Muito mais feia.
Com cara de Betty.
Com jeito adolescente.
Chorou como tal.
Mas enquanto esperava mais um pedaço do aparelho, foi sentindo um certo conformismo.
Logo acaba, ela pensou contando anos como semanas.
-Abre a boca, vou colocar uma plaquinha pra corrigir a mordida.
-Ah é?

E esse foi seu último suspiro.
Depois disso mal podia falar.
Nem comer.
E então engoliu o ódio no almoço.
E ficou feliz por emagrecer.


2 comentários:

Maíra disse...

Adivinha quem que logo, logo vai ter que por de novo também?
Alegria, Alegria!
:~

Michele disse...

Adorei o texto! Mulheres sempre conseguem tirar vantagem de situações como essa! :)


Carinho sempre faz bem! E suas palavras me aqueceram o coração... tudo isso me ajuda a ter força!

Obrigada, querida!


Beijos!