segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Torrente

Foi tudo muito rápido
E então, quando se deu conta, já havia borrado todo o rímel
No meio da tarde
Em meio às coisas que tinha pra escrever
Junto com a chuva lá fora
Deixou lavar
Encharcando a gola da camiseta de água quente e salgada
Limpando com as costas da mão a maquiagem
Tentando eliminar os vestígios de tristeza
Querendo parecer feliz
Enquanto pensava que aquilo
Era aquela mesma angústia
Não ia embora por nada
Nunca na vida
Nem que virasse um chafariz
Nem que fosse onda
Por nada
A tristeza não era dela
Era ela
Desde o dia que nasceu.

E percebeu que mesmo com os poros ardendo
Com o rosto inchado
A boca vermelha
Mesmo assim
Com a tristeza lá dentro
Naquele espaço vazio
Invadida
Ainda assim podia ser feliz
Nos dias de sol.

Quando chove,
Transborda.