domingo, 17 de agosto de 2008

Ele e ela

Não é acostumada com insônia. Nunca foi.
Dez da noite bate o sono.
Faz força pra manter os olhos abertos até o meio do filme.
No fim dorme.
E acorda pra ir dormir.
Na cama.

Mas algumas vezes não consegue entender, enche a garganta de um nó apertado, que não sai de jeito nenhum.
Ela sabe que é falta dele.
Ou aquela presença calada, muda, imóvel.
Não entende como pode existir alguém que fique confortável no nada.
Não só pela quietude.
Talvez ela goste do silêncio quando tem nas mãos um livro.
Mas aquele vazio, oco - "hei, tem alguém aí?".
Impossível. Ela desconhece esse estado.
É incapaz de viver assim, com os olhos voltados pra parede, secos, sem nada pra dizer, nem afim de ouvir.

E em dias de silêncio dele, o barulho dela agita lá dentro.
E faz doer o peito, estalar os dedos, sala, quarto, cozinha e chocolate.
É com ela?
Sabe que não, mas antes fosse e eles teriam motivo para uma boa discussão.
Mas ele não é disso, não cospe as palavras, ao contrário, revisa tudo antes de falar.
Ele não ousaria inventar um motivo.
Ela pergunta se ele já dormiu.
Ele não responde porque sim.
Como pode dormir sem antes dizer qualquer coisa!
Uma só coisa!

Nesses dias de sono dele ela perde o sono fácil.
E não fica feliz na sala vazia.
Tenta calar por dentro, mas não suporta o silêncio lá fora.

Quando ele fica na dele
Ela se perde dentro dela.

2 comentários:

disse...

nossa...
pq que a gente não é a mia walace? do pulp fiction
ela e a teoria de "silêncio confortável"

Lydia disse...

"Quando ele fica na dele
Ela se perde dentro dela."
Me vi nas entrelinhas, falou de mim foi?
Beijão!