sexta-feira, 13 de junho de 2008

Fundo de garrafa



- Alô, bom dia, gostaria de marcar uma consulta com o oftalmo.
- Sim, qual deles?
- Ah, tem mais de um é?
- Tem sim, tem o Dr.João, a Dra. Fátima, o Dr. Pedro, o Dr. Vagner...
- Vagner. Pode ser esse Vagner mesmo. Dois horários tá, um pra mim e um para o meu marido.
- Sim, pode ser quinta-feira as 16?
- Pode sim. Obrigada.
- De nada, tchau.
- Ah! Só mais uma coisinha, onde fica o consultório?

(...)

Foram os dois, ela cega e ele não. Mas ele queria confirmar que não era cego e aproveitou a ocasião.
Essa era a segunda visita dela ao oftalmologista. Da última vez, anos atrás, tinha um pouco de miopia. Tão pouco que com ou sem os óculos verdes o mundo era a mesma coisa. Agora esses óculos facilitavam para ela ler as legendas no cinema. Dirigir, mesmo com os óculos, já estava difícil, as placas não faziam sentido, eram borrões em preto e amarelo, vede e branco e branco e vermelho. Só borrões.

Sentou na sala de espera e enquanto via uma revista sem texto o marido fazia a ficha.

- Casada ou solteira?
- Casada! - Ele respondeu por ela com uma cara satisfeita.

Antes que reparasse na roupa das famosas em alguma entrega de algum prêmio em algum lugar, a secretária os convidou pra entrar na sala do Dr. Vagner. Ele usava óculos, de lentes grossas e modelo antigo. Fundo de garrafa. A mesa na qual ele empilhava alguns livros de medicina tinha o desenho de um olho feito com diversos tipos de mármore. A pedra usada na íris tinha riscos parecidos com os de uma íris de verdade. Credo.

- E então, qual o problema de vocês? - Perguntou o médico sem desgrudar os olhos do computador.

E então ela disse seu problema, ele disse o dele. Exames. O doutor ligou um aparelho que projetou uma luz em circulo na parede.

- O que você vê ali?
- Como assim?
- Ali, projetado na parede?
- Ah sim, uma luz, formando um circulo.

(silêncio)

- Sim, e no meio da luz?
- Ué... Nada, no meio nada.

O médico colocou nela um óculos horrível pra fazer o teste de lentes.

- E agora?
- Ah sim! Agora umas bolinhas pretas.

Trocou as lentes.

- E agora?
- Meu Deus, agora as bolinhas viraram letras! Nossa!

(...)

Alguns graus a mais e ela já via denovo os detalhes do mundo.
Foi embora quase feliz.
Queria mesmo os olhos de criança, que achavam com facilidade a tarrachinha do brinco perdida na grama.

5 comentários:

amanda. disse...

minha mãe sempre diz que a maior tristeza dela é perceber que esta ficando cegueta.
que visão é uma coisa que "não volta".

quando minha vó operou da catarata, ela voltou do hospital parecendo que estava enchergando pela primeira vez. saltou do carro rindo como criança e dizendo que tudo era lindo, que tudo era colorido e que, agora sim, via nosso rosto direitinho.
fiquei ate emocionada.

disse...

quantos graus?

disse...

acabei de ler!
cheguei do trabalho e o envelope estava em cima da minha cama. Segui todas as instruções.
:)
eu te sinto perto.
aliás... senti tantas coisas que só poderei contar na resposta da sua, que chegará pelo correio.
ai aproveito e te conto o rolo do blog também.
vc conseguiu se cadastrar lá?
ameio o CD
afffffff
amei tanto,
amo você!

.Ná. disse...

Ah, eu tambem tenho saudade dos meus olhos que achavam essas tarrachinhas. Meus óculos já não prestam mais..
Beijos

Ana disse...

Lê..
respondendo ao ps. na carta da fer... tb amooo vc minha cumadre (ihuu).. qdo volta pra cát?
me mande um email contando as novidades!! sabe qual é ne? no hotmail.
bjo bjo bjo
magrelito manda bejo tb pros dois (eu tb)